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Uma eco freguesia sem árvores

Sara Martins
Opinião \ quinta-feira, dezembro 26, 2019
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A prevenção faz-se no cuidado das árvores, para que não fiquem frágeis, não no seu abate.

Não deixa de ser irónico que, no ano em que Caldas das Taipas vence o concurso Eco-Freguesia, e é apelidada de freguesia mais verde do país, é também o ano em que se regista o maior massacre de árvores na vila.

É a chamada política do parecer, dos títulos, das fotos nos jornais e no facebook. Das peneiras e do supérfluo, enquanto o essencial é descurado e adiado.

Na última semana, só a alameda do parque perdeu 20 árvores. Vinte árvores!!! Deixou de ser uma alameda que, no dicionário, é um “caminho orlado de árvores de sombra”, para ser apenas uma rua. O vazio, que agora ocupa aquele que era dos mais bonitos postais da nossa vila, é preenchido pela tristeza e revolta de quem vê a beleza e riqueza da sua terra tombar com as árvores.

Se algumas destas árvores tombaram com a fúria da tempestade, a maioria foi cortada a mando da Câmara Municipal de Guimarães, (CMG) para prevenir estragos materiais e garantir a segurança das pessoas, dizem eles.

Se este conceito de prevenção pega moda, não tarda muito estamos a abater todas as árvores para acabar com os incêndios. A prevenção faz-se no cuidado das árvores, para que não fiquem frágeis, não no seu abate.

A prevenção faz-se com o enriquecimento do solo, para que a árvore tenha os nutrientes de que precisa para ser saudável. A prevenção faz-se com a poda de tratamento e rejuvenescimento, para a árvore crescer forte. A prevenção não se faz a cortar árvores pela base, na calada da noite, sem nenhum responsável a dar a cara, num massacre que parecia não ter critério nem coerência.

A esperança média de vida de uma tília é de 500 anos, na nossa vila, graças à incúria e desleixo de uma câmara que não sabe cuidar, não chegaram a um quinto do seu tempo.

De todos os adjectivos que me ocorrem para qualificar a (falta de) política de gestão do parque arbóreo no nosso concelho, nenhum deles é apropriado para reproduzir num jornal. A CMG não poda as árvores porque as árvores são bonitas se forem grandes e frondosas, mas, em caso de vento, corta as árvores pela base, porque são muito grandes e são um perigo para as pessoas. A inteligência por trás desta estratégia é incompreensível, ao comum dos mortais.

Este ano, a CMG lançou o plano de reflorestação do concelho. É um facto que temos o dever de deixar, às gerações vindouras, um ambiente saudável, mas é também um facto que temos o dever de cuidar da herança que os nossos antepassados nos deixaram. São as árvores plantadas há muito tempo que nos dão sombra hoje.

Infelizmente para nós, a gestão pública faz-se de propaganda, e esta privilegia as acções sensacionalistas. As fotos do presidente da câmara de enxada na mão, a prometer plantar 3000 árvores, fazem capa de jornais que dão votos. Já a manutenção das árvores não. Por isso vamos assistindo, ano após ano, à morte das árvores que nos dão sombra e abrigo, até não restar nenhuma.

As nossas árvores faziam parte da identidade da nossa vila, contavam muito da nossa história.   A próxima Primavera será diferente nas Taipas. O perfume das tílias que nos diz que estamos em casa, não será tão intenso, não teremos a fresca sombra dos grandes plátanos para nos abrigar. Resta-nos a consolação de ser eco-freguesia, o que quer que isso signifique…