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Uma Coragem do Tamanho do Mundo

Pedro Mendes
Opinião \ quinta-feira, dezembro 29, 2022
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Nunca vi tamanha coragem na minha vida. Aquelas mulheres, ao verem a sua camarada ser morta, decidiram elas também colocar a sua vida em risco para lutar pela sua dignidade.

Caro leitor, não queria fechar o ano sem falar naquelas que são das mais importantes caras de 2022, as mulheres do Irão.

Como certamente saberão, a rebelião feminista no Irão começou depois da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, às mãos da tenebrosa “Polícia dos Costumes” do Irão, por, alegadamente, não vestir correctamente o véu islâmico. Os protestos começaram logo no dia do Funeral, na cidade de Amini, Saqez, e rapidamente se espalharam por todo o Irão, primeiro nas universidades e meios culturais, e depois um pouco por todo o lado, com as mulheres a desafiarem os opressores retirando o véu islâmico e dançando na rua, numa espécie de grito de libertação que estava preso naquelas mulheres, e em toda aquela sociedade, há décadas.

Caro leitor, deixe-me ser bem claro: nunca vi tamanha coragem na minha vida. Aquelas mulheres, ao verem a sua camarada ser morta, decidiram elas também colocar a sua vida em risco para lutar pela sua dignidade. Aquelas mulheres sabem que cada vez que saem à rua para protestar, podem não voltar a casa. Sabem que cada vez que tiram o véu, colocam um alvo na sua cabeça. Sabem que pelo simples facto de se sublevarem contra os agentes políticos e religiosos do seu país, poderiam estar a assinar uma sentença de morte que as impediria de voltar a ver os seus filhos. É preciso ter uma coragem do tamanho do mundo. E elas têm.

Até 24 de Novembro passado, e segundo o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, já tinham morrido mais de 300 pessoas nos protestos mas, caro leitor, a luta destas mulheres continua. Embora tenham já conseguido acabar com a “Polícia dos Costumes”, nada mudou na realidade, O regime continua a menosprezar e a subjugar as mulheres e continua a querer impôs-lhes a vontade dos clérigos, quer ao nível da indumentária, quer dos costumes.

Confesso que não sei quanta força resta a estas mulheres para continuarem esta luta, mas espero que seja a força suficiente para que consigam mudar as suas vidas e para que consigam fazer valer o respeito pela sua dignidade.

Da minha parte, por pouco que seja e por pouco que ajude, só posso confessar a minha profunda admiração por estas mulheres. Consiga eu educar os meus filhos com tão fortes e profundos princípios e valores, consiga eu dar-lhes força para terem tamanha coragem, e serei um pai realizado.

*Nota - Durante todo o artigo de opinião que agora termino, falei sempre apenas nas mulheres presentes nos protestos. Bem sei que nos protestos estão presentes mulheres e homens e sabemos todos até de casos bastante mediáticos de homens que foram condenados à morte por participarem nos protestos, mas não quis em momento algum retirar o foco daquelas que são o centro destes protestos e daquelas de quem partiu o grito da revolta. Todos, homens e mulheres que lutam contra a opressão, são heróis.