Um drama... o aparecimento de sangue nas fezes!
As caraterísticas do sangue nas fezes podem dar pistas quanto à localização do problema. Por exemplo, a presença de sangue vermelho vivo indica, normalmente, que o sangue tem origem na parte terminal do intestino: no reto ou na região anal. A doença hemorroidária e as fissuras anais são exemplos de causas muito comuns, mas benignas do aparecimento de sangue vermelho vivo. Por outro lado, não se pode pôr de parte a hipótese de se tratar de um cancro colo-retal, muitas vezes referido como cancro do intestino com a mesma localização. De facto, esta é a situação mais temível e pode ter origem em qualquer segmento do intestino grosso, desde o local de transição com o intestino delgado até ao ânus. A grande maioria dos casos tem origem em pólipos, que representam lesões pré-malignas que antecedem em vários anos o aparecimento do tumor. Desta forma, este é um tipo de cancro que se desenvolve de forma lenta, oferecendo a possibilidade de ser detetado precocemente.
Além de sangue nas fezes, o cancro colo-retal pode provocar dor abdominal, falta de apetite, perda de peso, sensação de defecação incompleta e sensação dolorosa de vontade contínua para defecar.
Existem alguns fatores que aumentam o risco de desenvolver este tipo de cancro. O diagnóstico em familiares, sobretudo de primeiro grau e o facto do próprio indivíduo ter tido cancro do cólon e/ou reto ou pólipos pré-malignos no passado são exemplos. Também a idade representa um relevante fator de risco, já que pelo menos 90% dos casos ocorrem em indivíduos com mais de 50 anos. Em relação a fatores de risco potencialmente modificáveis, visto estarem associados a estilos de vida ou hábitos diários, temos como exemplos, uma dieta rica em gordura e pobre em fibras, o consumo frequente de carnes vermelhas, o abuso de tabaco e/ou álcool, o sedentarismo e a obesidade.
O cancro colo-retal também pode surgir na ausência de sangue nas fezes ou associado a pequenas quantidades não visíveis a olho nu. Neste sentido, em Portugal, está implementado um programa nacional de rastreio a toda a população, a partir dos 50 anos de idade, mesmo na ausência de sintomas. O objetivo é detetar, precocemente, alterações no intestino com potencial maligno ou mesmo tumores em fase inicial.
Antes dos 50 anos de idade, a realização do rastreio deve ser ponderada apenas em situações específicas, nomeadamente se houver um risco aumentado de desenvolvimento deste cancro.
Para realizar o rastreio, o seu médico poderá propor-lhe uma pesquisa de sangue oculto nas fezes ou a realização de uma colonoscopia. No primeiro caso, a análise irá permitir detetar pequenas quantidades de sangue nas fezes, muitas vezes associadas a pólipos ou tumores que perdem sangue. Esta análise poderá ser realizada a cada 1 ou 2 anos e, sendo comprovada a presença de sangue, deverá ser realizada a colonoscopia para encontrar a origem da existência de sangue nas fezes. Pode-se, também, optar pela realização de colonoscopia como método inicial, na qual um médico com treino específico observa o interior do reto e do cólon através da inserção de uma sonda especial e flexível que tem uma câmara de filmar. Qualquer pólipo que seja detetado por este método pode ser removido durante o procedimento. Além disso, a deteção de qualquer alteração intestinal poderá levar à realização de uma biópsia, isto é, remoção de pequenas porções de tecido para posterior análise, o que ajudará em muito a detetar ou a excluir uma lesão maligna.
O aparecimento de cancro do cólon e reto pode ser minimizado através da adoção de uma dieta rica em vegetais e fruta, do abandono do consumo de tabaco e álcool e com a prática regular de exercício físico. A idade, por si só, é um fator de risco a considerar e, por isso, torna-se importante que todos os indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos adiram ao plano nacional de rastreio deste cancro.
A presença de sangue nas fezes é um sinal de alarme em qualquer idade, e um bom motivo para recorrer ao seu médico.
Ana Teresa Fernandes - Médica