20 abril 2024 \ Caldas das Taipas
tempo
18 ºC
pesquisa

Um drama... o aparecimento de sangue nas fezes!

Redação
Opinião \ segunda-feira, novembro 10, 2014
© Direitos reservados
A presença de sangue nas fezes pode ser causada por uma lesão situada em qualquer ponto do sistema digestivo. Pode estar presente em quantidades tão pequenas, não sendo visível ou estar bem evidente, seja no papel higiénico ou na sanita com as fezes, após a defecação. É um sinal de alarme em qualquer idade, e um bom motivo para recorrer ao seu médico.

As caraterísticas do sangue nas fezes podem dar pistas quanto à localização do problema. Por exemplo, a presença de sangue vermelho vivo indica, normalmente, que o sangue tem origem na parte terminal do intestino: no reto ou na região anal. A doença hemorroidária e as fissuras anais são exemplos de causas muito comuns, mas benignas do aparecimento de sangue vermelho vivo. Por outro lado, não se pode pôr de parte a hipótese de se tratar de um cancro colo-retal, muitas vezes referido como cancro do intestino com a mesma localização. De facto, esta é a situação mais temível e pode ter origem em qualquer segmento do intestino grosso, desde o local de transição com o intestino delgado até ao ânus. A grande maioria dos casos tem origem em pólipos, que representam lesões pré-malignas que antecedem em vários anos o aparecimento do tumor. Desta forma, este é um tipo de cancro que se desenvolve de forma lenta, oferecendo a possibilidade de ser detetado precocemente.

Além de sangue nas fezes, o cancro colo-retal pode provocar dor abdominal, falta de apetite, perda de peso, sensação de defecação incompleta e sensação dolorosa de vontade contínua para defecar.
Existem alguns fatores que aumentam o risco de desenvolver este tipo de cancro. O diagnóstico em familiares, sobretudo de primeiro grau e o facto do próprio indivíduo ter tido cancro do cólon e/ou reto ou pólipos pré-malignos no passado são exemplos. Também a idade representa um relevante fator de risco, já que pelo menos 90% dos casos ocorrem em indivíduos com mais de 50 anos. Em relação a fatores de risco potencialmente modificáveis, visto estarem associados a estilos de vida ou hábitos diários, temos como exemplos, uma dieta rica em gordura e pobre em fibras, o consumo frequente de carnes vermelhas, o abuso de tabaco e/ou álcool, o sedentarismo e a obesidade.

O cancro colo-retal também pode surgir na ausência de sangue nas fezes ou associado a pequenas quantidades não visíveis a olho nu. Neste sentido, em Portugal, está implementado um programa nacional de rastreio a toda a população, a partir dos 50 anos de idade, mesmo na ausência de sintomas. O objetivo é detetar, precocemente, alterações no intestino com potencial maligno ou mesmo tumores em fase inicial.

Antes dos 50 anos de idade, a realização do rastreio deve ser ponderada apenas em situações específicas, nomeadamente se houver um risco aumentado de desenvolvimento deste cancro.

Para realizar o rastreio, o seu médico poderá propor-lhe uma pesquisa de sangue oculto nas fezes ou a realização de uma colonoscopia. No primeiro caso, a análise irá permitir detetar pequenas quantidades de sangue nas fezes, muitas vezes associadas a pólipos ou tumores que perdem sangue. Esta análise poderá ser realizada a cada 1 ou 2 anos e, sendo comprovada a presença de sangue, deverá ser realizada a colonoscopia para encontrar a origem da existência de sangue nas fezes. Pode-se, também, optar pela realização de colonoscopia como método inicial, na qual um médico com treino específico observa o interior do reto e do cólon através da inserção de uma sonda especial e flexível que tem uma câmara de filmar. Qualquer pólipo que seja detetado por este método pode ser removido durante o procedimento. Além disso, a deteção de qualquer alteração intestinal poderá levar à realização de uma biópsia, isto é, remoção de pequenas porções de tecido para posterior análise, o que ajudará em muito a detetar ou a excluir uma lesão maligna.

O aparecimento de cancro do cólon e reto pode ser minimizado através da adoção de uma dieta rica em vegetais e fruta, do abandono do consumo de tabaco e álcool e com a prática regular de exercício físico. A idade, por si só, é um fator de risco a considerar e, por isso, torna-se importante que todos os indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos adiram ao plano nacional de rastreio deste cancro.

A presença de sangue nas fezes é um sinal de alarme em qualquer idade, e um bom motivo para recorrer ao seu médico.

Ana Teresa Fernandes - Médica