Tenho candidato
Tenho um partido que sendo meu não é só meu, é também de muitos, muitos mais. Reparto com muitos desses as alegrias e as tristezas, os avanços e os recuos, as vitórias e as derrotas próprias dos entes vivos a quem alguns passam certidão de óbito após certidão de óbito.
O meu partido tem um programa com objectivos e metas, mas raramente é avaliado por os alcançar ou deles se distanciar, como é racional fazer e é feito relativamente aos demais partidos. Muitos dos avaliadores passam ao lado do que ele se propõe elaborando conclusões a partir das premissas que inventaram.
O meu partido tem o terrível defeito de ser transparente, dizendo o que quer sem se esconder. Está em completo desacordo com a situação económica e financeira do país, com os perigosos níveis assumidos pela dívida externa, com o profundo desequilíbrio da balança comercial e o sumiço da produção nacional, com os alarmantes valores apresentados pelo desemprego e pela emigração e, não se conformando, aponta as causas e actua, a todos os níveis e em todos os planos, no sentido de mudar de rumo.
Depois de outros partidos já estarem em campanha eleitoral, ainda que larvar, pelo seu candidato e quando outros se preparam para formalizar o apoio a um candidato servido em regime de conta-gotas, o meu partido não só disse que tomaria uma decisão como anunciou que teria um candidato próprio, porque não se revia em nenhuma das candidaturas publicitadas ou em vias de publicitação. Ao assim anunciar e proceder fez questão de dizer que na opinião dos seus dirigentes faz sentido uma candidatura autónoma de alguém a quem seria atribuída a tarefa de não deixar que a campanha eleitoral das presidenciais passe à margem das políticas e dos responsáveis políticos que estão na origem dos problemas que afligem boa parte dos portugueses.
Quando certos comentadores reagindo ao anúncio do indigitado tentam apoucá-lo dizendo que ele será a voz do partido, estão a insinuar que os demais candidatos vão desafinar com os respectivos partidos de origem, mas acima de tudo estão a prestar-lhe o melhor elogio, porque é mesmo isso que se pretende: falar claro e impedir que a campanha seja o biombo que esconde o falhanço económico e o desastre social.
Os que sonharam uma campanha eleitoral afastada dos problemas e das suas causas e causadores tentam encontrar no candidato todos os defeitos, enquanto nos seus candidatos só enxergam virtudes. Mas o meu candidato não tendo os defeitos que eles lhe atribuem, tem vários méritos que outros gostariam de ter mas não têm: não tem culpas no descalabro económico nem no alastrar das injustiças sociais. E ao contrário de outros vai dizer de queixo bem levantado que sem justiça social não há democracia, que não foi para haver mais pobres que se fez o 25 de Abril.
Votarei nele para dizer o que quero.