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Será esta a crónica de uma vitória anunciada?

Pedro Mendes
Opinião \ quinta-feira, setembro 17, 2020
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O resultado é imprevisível, mas se há 3 meses parecia claro que Trump não teria qualquer hipótese, hoje tenho medo de estar a escrever a crónica de uma vitória anunciada.

No próximo dia 3 de Novembro decorrerão as eleições Presidenciais nos Estados Unidos da América. Depois de um mandato no mínimo atribulado, Donald Trump concorre novamente pelo Partido Republicano, enquanto do lado do Partido Democrático (ou Democrata) concorre o ex-Vice Presidente de Barack Obama, Joe Biden.

Depois de todos os escândalos que envolveram Donald Trump, desde a saída de grande parte das convenções internacionais como os acordos climáticos de Paris ou da Organização Mundial de Saúde, passando pelo escândalo que levou a um processo de destituição (Impeachment) por causa do quid pro quo com os fundos de ajuda à Ucrânia, terminando na desastrosa gestão da pandemia da Covid-19 e nas batalhas que se vão travando um pouco por todo o país por causa dos conflitos raciais latentes, seria de esperar que estas eleições fossem favas contadas, para os Democratas.

Pois, não são.

Joe Biden continua, ao dia em que vos escrevo, a liderar as intenções de voto a nível nacional (o que, tendo em conta o sistema político nos EUA, pouco quer dizer), bem como nos já famosos “swing states” (estados que normalmente não têm uma grande maioria do eleitorado de um ou de outro partido, podendo cair para qualquer um dos lados, mas que no final têm uma importância vital na definição do vencedor das eleições), mas está neste momento em queda acentuada.

Porquê, perguntarão os leitores depois de ler a minha nota introdutória. Não é uma pergunta fácil, mas eu vou tentar responder.

Primeiro, porque não vivemos tempos normais do ponto de vista político. Numa situação normal, Donald Trump não teria sequer sido eleito em 2016, o Brexit não teria acontecido e Bolsonaro não teria sido eleito no Brasil. Vivemos tempos complicados e isso explica-se com uma mistura explosiva de populismo, Fake News e redes sociais. (Tema a explorar numa próxima oportunidade)

Segundo porque se há coisa que já percebemos, é que o eleitorado base de Donald Trump aparenta estar pouco interessado na realidade. Este eleitorado vive numa espécie de bolha em que a informação circula numa espécie de eco de determinada facção, dando mesmo a sensação de desconhecimento total dos factos.

Terceiro porque a pandemia caiu, nos Estados Unidos, numa espécie de normalidade anormal em que já não é o tema principal das notícias, mesmo com os novos desenvolvimentos em que ficamos a saber que Trump deliberadamente negligenciou os efeitos nefastos que a Pandemia poderia ter no país.

Em quarto e último porque o tema mais marcante do momento nos EUA são os motins que têm varrido as ruas por causa dos chocantes (e constantes) abusos policiais contra os negros. Ora, por paradoxal que pareça, com as ruas do país, por vezes literalmente, a arder, Donald Trump alimenta-se dos distúrbios para dividir o país e colocar o foco nos “bandidos” que se manifestam contra a violência cruel da polícia (casos como os Jacob Blake , George Floyd , entre muitos outros são paradigmáticos), ao invés de, como seria de esperar de um Presidente, serenar os ânimos e tomar medidas para resolver o problema da violência policial.

O resultado é imprevisível, mas se há 3 meses parecia claro que Trump não teria qualquer hipótese, hoje tenho medo de estar a escrever a crónica de uma vitória anunciada.