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Que os Deuses nos ajudem! A Religião nas comunidades pré-romanas.

António Freitas
Opinião \ sexta-feira, fevereiro 28, 2025
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Os Romanos trouxeram várias influências que “adotavam” dos territórios por onde passavam, sabe-se que estes nunca combateram o desaparecimento das crenças e dos cultos dos povos colonizados.

A romanização do território que hoje habitamos, causou um grande número de complexas transformações, inevitável para os povos indígenas que por cá habitavam e que designamos genericamente por “Castrejos”, que alterou completamente o seu modo de vida. Claro que, estas alterações, foram sendo implementadas de forma progressiva e lenta, pelo menos para algumas delas, ao longo de centenas de anos, o que suavizou em parte o choque das alterações que iam sendo adotadas.

Sabe-se hoje, com algum grau de certeza, através dos resultados da investigação arqueológica que se foi fazendo, que os povos que habitavam o nosso atual território estavam já dotados de um modo de vida e cultura próprios, aquando da chegada dos Romanos, que se traduzia na sua arquitetura, nos seus costumes ou até mesmo nas suas crenças.

Por outro lado, sabemos também que os Romanos trouxeram com eles várias influências que “adotavam” dos territórios por onde passavam, mas que advinham de tradições locais de várias comunidades e que passavam também elas a ser integradas nos costumes Romanos. Aos dias de hoje, sabe-se que estes nunca combateram o desaparecimento, pelos menos total, das crenças e dos cultos dos povos colonizados.

Uma das crenças mais importantes para as comunidades “indígenas” eram as suas Divindades. Estas ligadas a um caracter individual ou mais unidas à comunidade, que viriam já de tempos ancestrais aos do próprio povoado e que podemos associá-las ao chamado panteão Galaico-Lusitano. Este, composto por um grande número de deuses e deusas, uns mais adorados que outros, chegam-nos o seu testemunho através da análise das decorações dos ex-votos, do conteúdo das epigrafes latinas e aliados muitas das vezes ao próprio contexto arqueológico.

No nosso território em específico, existiam quatro principais Divindades, que eram adoradas pelas comunidades e que teriam um caracter protetor, indispensável para aquela época. Eram elas:

Bandua, de carácter tutelar, pois usava a sua força e energia para unir e integrar, protegendo assim a comunidade e a entrada do povoado; Coso, ligado ao espaço de reunião e patrono de banquetes, apresenta-se posteriormente ligado ao deus Marte (deus romano); Reve, com o seu carácter infernal está associado aos acidentes naturais que aconteciam nas montanhas, rios ou oceanos e às zonas de fronteira que estes delimitavam; E por último Nabia, divindade polifuncional, estava associada à água e aos vales, sendo esta posteriormente ligada a Júpiter (deus romano).

Todos estes, compunham aquilo que seriam as divindades da área Galaica (ao Norte do Rio Douro) e Lusitana (a Sul do Rio Douro), comuns nestes espaços, no entanto, não se sabe com grau de certeza se seriam masculinas ou femininas e até mesmo a amplitude de tudo aquilo que elas poderiam representar na época. Para além das divindades citadas anteriormente, existiam ainda as “secundárias”, em maior número, que em conjunto traduziam aquilo que podemos designar por religião, no verdadeiro sentido da palavra, podendo, no entanto, ser esta mais ou menos organizada, consoante o local a ser estudado.

Desenho de 1728, publicado por Contador de Argote, na obra "De Antiquitatibus Conventus Bracaraugustani", onde se representa a Fonte do Ídolo, com a Deusa Nabia