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Redação
Opinião \ quinta-feira, outubro 14, 2010
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Na disciplina de História aprende-se que tivemos ditadores, (...), mas também tivemos Leonor Teles e o seu amante, o Conde Andeiro, corridos pelo povo pelos seus apelos à intervenção de Castela.

Com três letrinhas apenas se escreve uma das mais temidas organizações internacionais que vagueiam pelo mundo para perdição dos países enfraquecidos economicamente.

Aproveitando a publicitação do chamado relatório de execução orçamental, um coro afinadíssimo de economistas e comentadores económico e políticos do sistema desatou a gritar: vem aí o FMI!

Este grito não é bem o reflexo de medo: é mais a expressão do desejo inconfessado que vai na alma de quem, nas vésperas da apresentação do orçamento geral do estado, gostaria de nele ver contidas propostas que, pela sua gravidade e pela resistência que suscitam por parte das vítimas, preferem que sejam outros a propô-las para poderem apresentá-las como imposição do exterior.

Atentemos no coro e nele veremos economistas e ex-ministros das finanças que se destacam por pedirem mais cortes na despesa pública, mais cortes nas despesas sociais do que aquelas que os governos de ocasião defendem. Dele fazem parte os pessimistas do costume que vertem lágrimas de crocodilo em cima da grave situação económica e financeira que alguns deles ajudaram a criar que não conhecem mais solução além das habituais: cortes cegos no investimento, cortes cegos no consumo.

Ora, uma economia como a portuguesa com um grau de desenvolvimento muito inferior ao dos principais países da União Europeia, especialmente Alemanha e França, necessita de crescer mais do que eles sob pena de cavar o fosso que nos separa, o que, implica investimento selectivo, apoio à produção nacional, aumento do mercado interno, ou seja, exactamente o contrário das receitas recomendadas no catálogo do FMI.

A prova de que a gritaria a favor da entrada do FMI é biombo que esconde os sonhos perversos da direita portuguesa, com Passos Coelho e o PSD à cabeça, é que o tal relatório de execução do orçamento revela que este está a decorrer consoante o projectado e aprovado e isso quando se sabe que algumas das medidas aprovadas por PS e PSD no quadro do chamado PEC2, como a cobrança de IVA e IRS, só agora no segundo semestre vão ficar espelhadas nas contas públicas. Para quem enche tanto a boca com a exigência de rigor, como Passos Coelho, a desvalorização premeditada deste pormenor não abona a favor da seriedade intelectual que lhe é atribuída.

Mas há uma outra prova de que a gritaria a favor da vinda do FMI é produto de pessimistas obcecados com a ideia de preparar psicologicamente as vítimas para se conformarem com as medidas impopulares e anti-sociais que lhes querem impor. Lendo e vendo a comunicação social estrangeira não há o mais ligeiro prenúncio de que o FMI pensa intervir. Bem pelo contrário, o que se conhece a este propósito são declarações oficiosas no sentido da não intervenção e a única coisa que se estranha em toda esta onda reaccionária que o líder do PSD aproveita para surfar é o silêncio escandaloso e cúmplice do ministro das Finanças que sabe os prejuízos que tal manobra causa e de que é efeito mais visível os juros elevados que o governo português teve de pagar para seduzir o mercado (leia-se, especuladores) .

Na disciplina de História aprende-se que tivemos ditadores, como lembra o meu amigo dr. Manuel Ribeiro, mas também tivemos Leonor Teles e o seu amante, o Conde Andeiro, corridos pelo povo pelos seus apelos à intervenção de Castela.