Portugal é o quatro país na Europa onde mais se desperdiça comida
Faço parte de uma geração que ouviu vezes sem conta a frase: “Come tudo o tens no prato, és um privilegiado porque há meninos a morrerem à fome”. Na verdade, fomos educados a ter gratidão por ter comida em abundância nas nossas casas. Talvez fruto de uma geração de pais e avós que passaram privação de comida. Quantos não ouvimos relatos de que adormeciam com fome ou de que uma sardinha alimentava três à mesa? No entanto, estas histórias verídicas de um Portugal oprimido e em ditadura (talvez em tempo de eleições, seja importante refletir sobre esse país que não deixa saudades) deveriam ser contextualizadas aos nossos filhos de outra forma que não, apenas, na perspetiva de gratidão.
No mundo existem atualmente 7.9 biliões de pessoas, mas a previsão é de que cheguemos aos quase 10 biliões em 2050. Ora, para alimentar todas estas pessoas, teremos que obrigatoriamente produzir mais e melhor, mas também consumir de forma mais consciente.
Portugal, uma vez mais, tem sido um péssimo exemplo no que diz respeito ao desperdício de alimentos. Somos o quarto país que mais desperdiça na Europa! Em média, o cidadão português desperdiça mais de 180 quilos de comida por ano. Talvez estes dados nos digam pouco e não nos façam verdadeiramente ver o problema. Vejamos então quanto é que o desperdício alimentar nos retira da carteira. Dados de 2023 demonstraram que cada português perde em média 28€ mensais com o desperdício alimentar, o que significa que numa casa com quatro pessoas estamos a falar de 112€ no lixo todos os meses e 1344€ por ano.
Então, que medidas podemos implementar para diminuir o desperdício alimentar? São inúmeras, mas falemos das mais básicas. Devemos comprar apenas os alimentos que vamos garantidamente consumir, não deitar fora alimentos cuja data de validade tenha sido ultrapassada sem verificar o estado dos mesmos (o clássico exemplo dos iogurtes que, na grande maioria, estão aptos para consumo após expiração da data) e, das medidas mais importantes, confecionar doses ajustadas a cada família (aprender a dosear é a chave para diminuir o desperdício).
Nas escolas, há também um longo caminho de sensibilização e consciencialização para o desperdício alimentar. Deveríamos dar autonomia às nossas crianças para se servirem da quantidade que consideram ser ajustada às suas necessidades. O mesmo com os adultos, nos centros comerciais as grandes cadeias de restaurantes servem doses standarizadas, com quantidades que maioritariamente não conseguimos comer, pelo que devemos pedir para que sejam servidas de forma mais reduzida. Mais ainda, a mentalidade de que o restaurante é bom porque ‘serve muito’ deve ser também alvo de reflexão. Parece haver um certo prazer generalizado no facto de sobrar comida “graças a Deus, ainda sobrou!”. Enquanto cultivarmos alimentos que terminam no lixo, continuaremos a ter pessoas a morrerem à fome. Não é uma questão de gratidão, mas consciencialização!
Este é um artigo de opinião que não pretende responsabilizar, mas sim trazer à reflexão um assunto com elevado impacto direto ou indireto na vida de todos.