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O chocolate vai ‘amargar’

Tânia Fernandes
Opinião \ quinta-feira, abril 11, 2024
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As culturas hortofrutícolas não estão preparadas para estas flutuações climatéricas tão abruptas, tornando-se um grande desafio para produtores e investigadores.

Nos últimos anos temos vindo a assistir a um aumento generalizado do preço dos produtos alimentares. Por vezes fruto de especulação mas, maioritariamente, resultado de questões políticas ou alterações climáticas, a verdade é que são cada vez mais os produtos cujo preço aumenta de forma exorbitantemente rápida.

Não sou politóloga, nem economista, mas na qualidade de bióloga e investigadora, sabemos hoje que as culturas hortofrutícolas não estão preparadas para estas flutuações climatéricas tão abruptas, tornando-se um grande desafio para produtores e investigadores. O estudo do efeito das alterações climáticas passa muitas vezes por tentarmos selecionar variedades mais resistentes a condições ambientais adversas, sejam elas seca, elevada temperatura, exposição a radiação mais forte, etc., mas a imprevisibilidade dos cenários climatéricos não ajudam, por vezes, no sucesso das abordagens.

Após o aumento abrupto do preço do azeite em Portugal como consequência dos efeitos da seca extrema em Espanha, o mais recente gigantesco abalo no preço incide no cacau numa época de elevado consumo como a Páscoa. Os valores da bolsa rondam à data de hoje 10.000€/tonelada, um aumento de 150% desde o início do ano! Há quem aponte a velhice das árvores em produção na África Ocidental. Mas, não será a industria do chocolate suficientemente rentável, como para potenciar a produção do cacau? A verdade é que também o continente Africano tem sofrido enormemente com as alterações climáticas. No caso do cacau, após períodos intensos de seca extrema na fase de maturação das sementes, seguiram-se chuvas torrenciais na fase de colheita, o que potenciou o aparecimento de uma doença fúngica que veio agravar ainda mais a produtividade desta cultura.

Vários fabricantes de chocolate apontam já para aumentos nos próximos tempos. Todos concordamos que não é um bem essencial mas também, todos concordamos, que é uma industria com implicações em muitas outras, pelo que este aumento terá sérias repercussões. Depois dos cereais, do azeite, e agora do cacau, o que virá a seguir?

As alterações climáticas são uma realidade para a qual (mais ou menos) todos contribuímos e da qual, acredito piamente fazermos parte da solução. “Nenhum floco de neve se sente responsável por uma avalanche” (em inspiração de uma citação de um poeta polaco), embora sejam as ações individuais o despoletar de grande ações coletivas!