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Frutas e Legumes ‘Resíduo Zero’: marketing ou sustentabilidade?

Tânia Fernandes
Opinião \ sexta-feira, fevereiro 23, 2024
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A falta de disseminação e consciencialização para este selo, que começa a surgir, traz-nos algumas incertezas quanto à presença de resíduos tóxicos nos produtos que não sem o selo ‘resíduo zero’.

Nos últimos anos, a Comissão Europeia tem fortemente incentivado a uma transição ‘verde’ na agricultura, com a implementação de medidas que fomentem o uso sustentável dos recursos naturais, como água e solo, e um modo de produção mais amigo do ambiente, com a redução da aplicação de pesticidas. No âmbito destas medidas, têm vindo a público um conjunto de análises efetuadas a frutas e legumes, com o intuito de alertar e corrigir práticas agrícolas menos respeitadoras.

No sentido de uma preocupação cada vez mais premente por um estilo de vida saudável, algumas cadeias de supermercados decidiram recentemente introduzir uma nova rotulagem em frutas e legumes, denominada de ‘resíduo zero’. Estes produtos, maioritariamente mais caros que os convencionais,  são recorrentemente associados a um modo de produção biológico, sem aplicação de qualquer pesticida. Mas serão efetivamente produtos que não foram expostos a qualquer composto químico durante o processo de produção?

A resposta é não! É importante esclarecer os consumidores de que produtos ‘resíduo zero’ podem ser provenientes de uma agricultura convencional, onde foram aplicados pesticidas. No entanto, nestes produtos, há a certeza de que no momento do consumo não há qualquer resíduo presente nos mesmos, salvaguardando qualquer consequência para a saúde humana. Ou seja, o rótulo ‘resíduo zero’ garante a ausência de resíduos químicos detetáveis no momento do consumo.

A falta de disseminação e consciencialização para este selo, que começa agora a surgir, traz-nos algumas incertezas quanto à presença de resíduos tóxicos nos produtos que não apresentem o selo ‘resíduo zero’. No entanto, o produto indiferenciado (sem rótulo ‘resíduo zero’) não significa que seja mau para a saúde, uma vez que a venda numa grande superfície requer certificação da produção, ou seja, requer que os produtos no momento da colheita não ultrapassem os limites máximos de resíduos de pesticidas.

À semelhança de frutas e legumes produzidos em agricultura biológica, os produtos ‘resíduo zero’ apresentam atualmente um valor mais elevado, sendo que as grandes cadeias de supermercados alegam que se deve à necessidade de certificação dos produtos, nomeadamente através de inúmeras análises e, eventualmente devido a algumas perdas na produtividade por parte dos agricultores.

No entanto, com as exigências impostas a nível nacional e europeu, através da Estratégia Europeia do Prado ao Prato, à Estratégia Nacional para a Neutralidade Carbónica e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, é altamente expectável que possamos assistir nos próximos anos a mais produtos resíduo zero, cujo valor no mercado seja menos inacessível para a maioria dos consumidores.