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Porque é que o meu médico não me prescreveu um antibiótico?

Redação
Opinião \ terça-feira, maio 12, 2015
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É uma das perguntas que surge com muita frequência entre os doentes que recorrem à consulta urgente das Unidades de Saúde Familiar.

Ficam confusos quando vão várias vezes ao médico com sintomas muito parecidos de tosse com expetoração, febre e dor de garganta, e são medicados de maneira diferente.

As infeções da árvore respiratória superior (que inclui as amígdalas, a faringe e a laringe) podem ser provocadas por dois grupos diferentes de agentes: as bactérias e os vírus. Estes agentes levam ao aparecimento de inflamação, que apresenta uma evolução e sintomas muito parecidos, mas com algumas diferenças muito importantes. Estas diferenças ajudam o médico a perceber se está na presença de uma infeção/inflamação provocada por uma bactéria ou por um vírus. Na avaliação destas diferenças, o médico deve juntar os principais pontos da história contada pelo doente: qual o tempo de evolução da doença, se um sintoma tão simples como a tosse esteve ou está presente, ou se este teve febre. Perceber, ao examinar o doente, o seu estado geral, qual é o aspeto das amígdalas e da faringe, e se encontra massas de tamanho aumentado quando examina o pescoço; também é importante incluir nesta avaliação, caso estejam presentes, outros problemas de saúde conhecidos.

Perante uma forte suspeita de infeção por bactérias, há indicação para o doente começar a tomar um antibiótico; por outro lado, num quadro aparente de infeção por vírus (que é, de longe, a causa mais frequente para o aparecimento destes sintomas) o tratamento é de suporte, pois os vírus não morrem com os antibióticos. Felizmente para nós, na maioria dos casos as nossas defesas naturais encarregam-se de os eliminar, aconselhando-se a proteção de ambientes frios, a hidratação, e a toma de medicamentos capazes de diminuir as dores e/ou de combater a inflamação causada pelo vírus, como por exemplo, os bem conhecidos Ben-u-Ron® e Brufen®.

Posto isto, torna-se mais simples para o utente perceber que não deverá ser medicado com um antibiótico, sempre que tenha queixas de garganta vermelha com dor, tosse com expetoração ou febre.

A prescrição desnecessária de antibióticos aumenta a resistência das bactérias a estes medicamentos em futuras infeções. Isto acontece quando se começa a tomar um antibiótico quando não é preciso, ou quando a duração do tratamento e as doses não são cumpridas. As bactérias que não são mortas pelo antibiótico, tornam-se mais fortes e capazes de combater esta medicação. Isto faz com que infeções respiratórias simples, se tornem cada vez mais graves e mais difíceis de resolver, obrigando os profissionais de saúde a usar antibióticos mais fortes, mais complexos e mais caros, que deveriam estar sempre reservados para as infeções mais graves.

Quando o doente começa a tomar um antibiótico, deve seguir com rigor as indicações que o seu médico lhe deu, cumprindo a duração do tratamento e os horários das tomas que foram determinados, mesmo que já se sinta melhor.

Conclui-se, assim, que a não prescrição de antibióticos na grande maioria dos casos de infeção da árvore respiratória superior tem uma razão válida, que a sua toma repetida e injustificada pode ser, a longo prazo, prejudicial para o doente e para a população e que as medidas de suporte são quase sempre suficientes para resolver as queixas que levam os doentes à consulta urgente.