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Para levar a sério?

Cândido Capela Dias
Opinião \ sexta-feira, dezembro 10, 2021
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Durante os vários debates na Assembleia da República que antecederam a votação na generalidade da proposta do governo do PS para o OGE22, ouviu-se com frequência os defensores da proposta apelos lançados na direcção dos partidos à esquerda.

Entre muito do que então foi dito ouvimos argumentar que PCP e BE fossem sensíveis ao repto de vários socialistas e até do primeiro-ministro de deixarem passar a proposta na generalidade que depois na especialidade as suas propostas seriam acolhidas na especialidade.

Se a argumentação do PS fosse bem intencionada que sentido fazia remeter para a especialidade o que podia ser acolhido na generalidade, arriscando não demover os resistentes?

Racionalmente, qualquer cidadão capaz de pensar por si concordará que a postura do governo PS não colhe.

Não colhia e representava uma jogada de alto risco.

Os partidos que durante sucessivos orçamentos viabilizaram a governança do PS foram dando avisos da sua indisponibilidade para passar cheques em branco.

Mais, foram fazendo saber que a confiança na palavra e compromissos do PS tinham sido beliscadas com graves quebras.

Na realidade, PCP e BE estavam no grau zero da confiança e era preciso mais do que promessas para os levar a confiar que daqui em diante ia ser diferente.

Durante vários meses o PS foi apresentando iniciativas após iniciativas que não agradavam à esquerda mas agradavam à direita, que em coerência convergiu no voto com a bancada socialista. Isto gerou desconforto e crítica pública sobretudo ao PCP, acusado de dar vida a um escorpião que fazendo-se passar por amigo lhe dava beijos de morte.

Mais grave ainda.

Sabendo o governo e o PS o que significa para o PCP o trabalho e o valor e destaque que o partido lhe atribui, tomaram iniciativas que só podiam desagradar e serem rejeitadas pelos comunistas.

Foi assim com a Legislação Laboral, com o alargamento do tempo de experiência e a manutenção do bloqueio à contratação colectiva.

Com este comportamento anti-PCP que esperava o governo do PS dos comunistas senão reforçar o nível das exigências?

Aqui chegado impõe-se concluir que as vozes maviosas do governo para o PCP deixar passar o OGE22 com a promessa de que em sede de especialidade dariam o que recusavam dar na generalidade só podia ter a resposta que teve : basta!

[ndr] artigo publicado originalmente na edição de novembro do Jornal Reflexo.