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O triângulo virtuoso da vila

Cândido Capela Dias
Opinião \ sábado, abril 10, 2021
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Mas nem toda a mudança colhe as minhas simpatias. (...) não percebo a descaracterização na Alameda Rosas Guimarães, com densificação da habitação, autorizando novos blocos em cima das piscinas.

A Taipas que eu conheci está a desaparecer sob os meus olhos.

O centro está transformado num imenso estaleiro de obras públicas. Foi rasgado, esventrado, desfigurado. As máquinas e os homens abriram valas, separaram a terra por muitos anos unida e nela introduziram tubos, cabos de várias cores, condutas para os acolherem e acomodarem, bem como às águas das chuvas.

Os jardins não escapam à fúria dos humanos, separando ou reduzindo aqui para unir e ampliar mais além. As terras são remexidas, a sua morfologia será transformada, rebaixamentos nuns cantos, aterros noutros.

Os passeios, por onde via passar gente a caminho da Santa Marta das Cortiças nos fins de tarde quentes do verão, gente que no seu passar deixava o aroma fresco da alfandega que os mirones absorviam sentados à soleira das portas ou, no meu caso, nas imensas e largas escadas do casarão do meu avô Cândido Capela, esses passeios de lajedo vão alargar e ficar capacitados para o usufruto do espaço cívico por parte das pessoas em prejuízo das carripanas. E assim é que deve ser porque as pessoas estão antes dos carros e uma vila moderna que se preze tem de meter os carros na ordem.

E se tem de meter os carros na ordem não lhes pode ceder o espaço todo mas tem de os arrumar convenientemente em áreas bem definidas, se possível com acessos fáceis, curtos e rápidos ao centro onde estão os serviços.

Serviços que devem ser completos, diversificados, para que as pessoas possam ter à mão, num raio pequeno, o que necessitam evitando assim grandes deslocações e perdas de tempo. E o tempo será cada vez mais um bem caro.

Sei de ciência certa que a mudança vai desagradar a quem se habituou a ver e cheirar aquele desenho do casario naquela praça e das suas flores dos canteiros. Esses cidadãos vão receber a mudança- qualquer mudança- como um desrespeito ao seu imaginário, um atentado à “sua Taipas”. E tendem a garantir que a sua vila é a genuína esquecendo que outras Taipas houve num passado não muito distante e que está mudança sucede a outras mudanças e outras hão-de vir, porque todo o mundo é composto de mudança.

Mas nem toda a mudança colhe as minhas simpatias. Se entendo as transformações no centro cívico no sentido de devolver a vila às pessoas, com o aprofundamento da padronização e o que isso implica, não percebo a descaracterização verificada na Alameda Rosas Guimarães, com densificação da habitação, autorizando novo ou novos blocos em cima das piscinas.

A Câmara de Guimarães tem realizado avultados investimentos nas Taipas, como a remodelação do centro da vila, mas que isso não sirva de pretexto e argumento para desfigurar o polo ribeirinho com o licenciamento de prédios de cércea elevada que sobressaem das copas das velhas e frondosas árvores, manchando o equilíbrio, a estética e o bucolismo daquele recanto. O parque, as margens do rio e os jardins da alameda devem ser zona “non aedificandi”, por muito apetecíveis que os terrenos sejam.

O triângulo centro cívico remodelado, termas activas e zona ribeirinha tratada e cuidada, deve ser tratado como um conjunto coerente que dá sentido e força à ideia de uma Taipas moderna agradável, tranquila, mas com identidade forte. de que os moradores gostem e os visitantes não confundam.