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O render do peixe - Cronologia de uma obra da CMG

Sara Martins
Opinião \ quinta-feira, novembro 15, 2018
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Todas as vezes que o município anuncia obras sem intenção de as realizar num futuro próximo está a mentir. Cada vez que noticia desculpas falsas para justificar o atraso nas obras, está a mentir.

Trinta anos de governação socialista na Câmara Municipal de Guimarães (CMG) permitem identificar padrões de comportamento. No caso das obras públicas, o que o passado nos mostra é que a CMG nunca cumpre com uma obra no decorrer de um mandato. Entre o prometer apresentar o projecto, arrancar a obra e a efectiva conclusão passam vários mandatos, manipulando a necessidade dos munícipes de acordo com os seus intentos eleitorais.

Poderia citar muitas obras em todo o concelho, mas deixo o exemplo do parque de lazer das Taipas, adiada durante demasiados anos e que só arrancou numa fase em que a degradação era já obscena.

Apresentada no âmbito do MAPa 2012, e com realização prevista para setembro de 2012, por ser já urgente, a obra de requalificação do parque de lazer tinha um orçamento de 369.462,50€. O projecto (que pode consultar aqui) contemplava a intervenção desde o parque de campismo até ao pontilhão incluindo a Alameda Rosas Guimarães. No mesmo MAPa 2012 constava ainda o projecto do percurso termal. Apresentado em Março de 2011, com um orçamento de 169.523,95€, e que pretendia requalificar o caminho entre os Banhos Velhos e o parque de lazer, intervindo na ribeira da canhota que percorre todo este caminho. (Pode ver aqui o projecto.)

Estávamos então na véspera das eleições autárquicas de 2013 e o país em grave crise financeira. A Câmara acenava pomposamente aos taipenses com projectos de mais de meio milhão de euros. Estávamos também na febre da CEC 2012 e havia um descontentamento relativamente à desproporção dos investimentos feitos na cidade em detrimento das freguesias.

Passam as eleições e os projectos não saem do papel. A CMG só voltaria ao parque de lazer das Taipas em 2017, ano de eleições. É na reunião de 8 de junho de 2017 que é adjudicada a obra de requalificação do parque de lazer pelo valor de 179.269,98€ e um prazo de conclusão de 90 dias.

Em quatro anos, e após o anúncio do fim da crise pelo governo socialista, a CMG retira cerca de 200 mil euros ao projecto do parque, sacrificando a requalificação da Alameda Rosas Guimarães, que permanece com os passeios escavacados e a ligação ao pontilhão que continua um quelho. Sobre o percurso termal, é apenas um projecto esquecido na internet.

Mas a novela não acaba aqui. Iniciadas as obras e passadas as eleições, os 90 dias para conclusão transformam-se em mais de um ano! As obras só terminariam em Agosto de 2018 e após grande contestação nas redes sociais. Segundo esta notícia divulgada pela Turitermas, a culpa deste atraso foi do arquitecto que escolheu uns candeeiros muito inovadores. (Ainda não perderam o hábito de culpar o arquitecto de tudo o que corre mal nas Taipas) A notícia diz ainda que a demora na conclusão teve que ver também com “o facto de não terem surgido propostas nos concursos públicos efectuados”. Acontece que o contrato inicial já previa no seu objecto as infra-estruturas eléctricas (ver aqui) e, após uma pesquisa pelo Diário da República não se encontra nenhum concurso público para o efeito. Na verdade, há ajustes directos para a iluminação dos parques de lazer, mas da Corredoura, Pevidém e Ronfe.

Numa altura que tanto se fala em “fake news” e no seu perigo, constatamos que os principais promotores destas notícias falsas são os órgãos do estado. Todas as vezes que o município anuncia obras sem intenção de as realizar num futuro próximo está a mentir, cada vez que o município noticia desculpas falsas para justificar o atraso nas obras, está a mentir. É este destrate pela verdade que mina a democracia.