O que (não) comiam os portugueses antes do 25 de Abril de 1974
Pobres ou ricos, todos foram privados de alimentos durante a ditadura em Portugal. Claro está que a população nos meios rurais, sem recursos financeiros, foi (e continua a sê-lo) durante décadas a mais prejudicada pela opressão.
Conta o livro “Proibido!” do jornalista António Costa Santos, leitura aconselhável para todas as faixas etárias, que António Salazar proibiu a venda de coca-cola em Portugal porque o vermelho dos camiões prejudicava a paisagem verde em Portugal. A verdade é que a marca era vista como um símbolo do estilo de vida americano e, como uma concorrência às bebidas nacionais, especialmente ao vinho.
Num país fechado, isolado propositadamente do resto do mundo, o que comiam os portugueses antes do 25 de Abril?
Foi no ano da Revolução dos Cravos que abriu o primeiro restaurante com estrela Michelin no nosso país, começamos também a querer bater recordes, e ainda em 1974 abrimos o maior supermercado da Europa. Fruto da opressão e da carência de alimentos diferentes, o país durante o Estado Novo comia mais leguminosas (essencialmente feijão), pão (de centeio porque o trigo surgiu mais tarde), batatas (muita batata) e mais peixe que carne. A carne era para dia de festa e, no peixe, o fiel amigo bacalhau fazia jus às “mil e uma maneiras” de o fazer render. Comiam-se fritos e cozidos. Comia-se mais sopa, mas com menos legumes. Havia ainda as sopas de cavalo cansado para quem precisava de força para trabalhar no campo.
A população munia-se do que o campo lhe dava, porque as dificuldades eram a base da sua pirâmide alimentar. Os Josés e as Marias eram os nomes mais abundantes à época, mas as bolachas com o mesmo nome não o eram assim tanto, e eram compradas avulso nas vendas e mercearias. Aliás, a maioria dos produtos eram vendidos em doses mais comedidas e com o auxílio de embalagens reutilizadas, tais como o saco para o pão ou o vasilhame para o leite.
O leite, este, serviu ainda para, depois do 25 de Abril de 1974, ajudar a combater a fome nas escolas de Portugal. Só depois desta data é que foi implementada, com a ajuda dos professores, a distribuição diária de um copo de leite, fruta e pão a todos os alunos. Era, portanto, justificado que, cansados e com fome, os alunos tivessem taxas tão elevadas de insucesso escolar.
Acredito que o desejo de liberdade tenha sido ainda mais aguçado pela vontade que o povo tinha em alimentar o corpo e espírito porque, tal como diz o ditado: onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão!