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O preço da interioridade

Sara Martins
Opinião \ sexta-feira, novembro 29, 2019
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O orçamento do município de Guimarães este ano era de 108 milhões de euros, enquanto que o da Câmara de Famalicão não chegava aos 98 milhões. Como é que Famalicão consegue mais e melhor com menos?

Imagine um vimaranense que mora em Briteiros e trabalha na Penha e que vai para o trabalho de transportes públicos. Os dois passes que lhe permitem fazer os cerca de 18 km que separam a casa do trabalho custam 102,50 euros/mês.

Agora imagine um famalicense de Lousado que trabalha em Coimbrões. Para fazer os quase 40km que separam a sua casa do local de trabalho, tem de desembolsar apenas 40 euros/mês. Neste caso o famalicense tem ainda o privilégio de poder usar o seu passe para ir passear até à Póvoa de Varzim, Vila de Conde, Oliveira de Azeméis, Espinho, Arouca, Santa Maria da Feira, sem pagar mais por isso.

Os dois exemplos acima são reais, como é real a desigualdade e injustiça cada vez maior para quem, como nós vimaranenses, tem de viver com o peso da interioridade, dirão alguns, ou com o azar de ter um município muito pouco sensível à questão da mobilidade, digo eu.

Repare que no primeiro exemplo o vimaranense não sai sequer do seu concelho, enquanto no caso do habitante de Famalicão, atravessa seis municípios e percorre o dobro dos km por menos de metade do preço. Guimarães faz questão de dificultar o acesso à cidade a quem mora fora dela, uma atitude elitista que debilita a cidade e o concelho.

A Comunidade Intermunicipal do Ave (CIM Ave) da qual Guimarães e Famalicão fazem parte, recebeu 1,385 milhões do Programa de Apoio à Redução do Tarifário dos Transportes Públicos (PART).

Deste bolo, a maior fatia - 546 mil euros, veio para Guimarães. Com esse dinheiro a Câmara Municipal de Guimarães decidiu aplicar 310 mil euros na oferta do passe a 1.800 alunos do ensino secundário que residem a mais de três quilómetros da escola.

Decidiu ainda que, 192 mil euros seriam para comparticipar 50% do passe dos alunos do ensino básico e secundário, que residam a uma distância inferior a três quilómetros da escola, assim como os passes para o mês de Agosto para todos os jovens até aos 18 anos.

Por último, a autarquia decidiu comparticipar em sete euros o passe da linha cidade aos assinantes do passe da CP - Comboios de Portugal, com Guimarães como origem ou destino.

Por sua vez, Famalicão recebeu apenas 277 mil euros e aplicou esse dinheiro na linha da cidade, que agora é gratuita para todos. A verba servirá ainda para financiar a oferta do passe escolar, que em Famalicão já abrangia todos os alunos do primeiro ciclo ao secundário, sem distinções.

Como curiosidade, o orçamento do município de Guimarães este ano era de 108 milhões de euros, enquanto que o da Câmara de Famalicão não chegava aos 98 milhões. A pergunta que se impõe é como é que Famalicão consegue mais e melhor com menos dinheiro.

Em Maio, neste texto, previa que não demorará muito para Famalicão ultrapassar Guimarães, a verdade é que em matéria de mobilidade e preocupação com os seus munícipes, Famalicão está já muito à frente.

Há um ano, a Câmara de Guimarães vangloriava-se por ser um dos primeiros concelhos de Portugal a apresentar um plano de mobilidade sustentável, e esta postura resume bem o tipo de governação que temos e que vive apenas de títulos, vaidade e ostentação, sem resultados práticos na melhoria de vida dos cidadãos.