10 janeiro 2025 \ Caldas das Taipas
tempo
18 ºC
pesquisa

O Marco Miliário de Trajano - Monumento Nacional de Sande São Martinho

António Freitas
Opinião \ quarta-feira, janeiro 08, 2025
© Direitos reservados
Na freguesia de Sande São Martinho, por onde em tempos romanos passava a via que ligava Bracara Augusta ao Vale do Ave, foi descoberto um desses marcos miliários, datado do ano 103.

A romanização do nosso território deixou várias marcas que chegaram até aos nossos dias e que retratam, em parte, aquilo que outrora foi um imponente império, chefiado desde Roma.

Uma das características principais dessa romanização e que era aplicada o mais rapidamente possível após a conquista de novos territórios, era a construção de novas redes de comunicação viária, ou mesmo ligação às já existentes, com as designadas Viae Publicae e as Viae Vicinales, que asseguravam a ligação de todos os territórios do império.

Nas bermas dessas antigas estradas romanas, era comum a colocação dos chamados marcos miliários, grandes pedras, com afeiçoamento cilíndrico ou retangular, com o importante papel de orientar os viajantes nestas estradas, albergando diferentes informações em inscrições latinas, tais como as milhas e até mesmo o nome e os títulos do imperador em exercício aquando da construção dessa mesma estrada ou do seu restauro.

Estes elementos, bastante característicos da nossa região, foram sendo mais ou menos preservados, muitos deles chegando até aos nossos dias, devido ao facto da sua existência em grande número de exemplares.

Na freguesia de Sande São Martinho, por onde em tempos romanos passava a via que ligava Bracara Augusta ao Vale do Ave, foi descoberto um desses marcos miliários, datado do ano 103. Este, de paradeiro incerto durante vários séculos após a sua utilização original, foi em 1640 reaproveitado numa das paredes originais da igreja paroquial que mais tarde desmoronou, sendo depois relocalizada para uma das esquinas da sacristia da parte do claustro.

No ano de 1808, durante a construção da capela-mor, foi demolida a sacristia onde se encontrava o marco miliário, que apenas recebeu uma nova utilização no ano de 1816, sendo readaptado numa das escadas da residência paroquial, altura em que a peça recebeu um corte longitudinal, para melhor servir a sua nova função.

Ainda em finais do século XIX, durante obras de beneficiação da residência paroquial, a escada com inscrições latinas chama a atenção, conseguindo-se que o elemento fosse analisado no ano de 1885 por Francisco Martins Sarmento e João de Oliveira de Guimarães (Abade de Tagilde), que se deslocam a Sande São Martinho. Após perceberem que se tratava de um marco miliário reaproveitado, rapidamente desenvolveram esforços e a peça foi doada no mesmo ano à Sociedade Martins Sarmento, por intermédio de João de Sousa Machado.

Mais tarde no ano de 1910, juntamente com vários outros elementos e locais, o marco miliário de Sande São Martinho, que estava e permanece exposto no Claustro de São Domingos, onde já se encontrava o Museu Martins Sarmento, recebe também ele a classificação como monumento nacional.

Uma das interessantes características deste marco miliário é a inscrição que nele consta, onde se lê parte de uma dedicatória ao Imperador César Nerva Trajano, também honorado na famosa “Ara de Nerva” ou “Ara de Trajano”, em Caldas das Taipas. Possivelmente foi ele o responsável pela abertura ou arranjo da antiga estrada romana, que passava onde hoje é a atual estrada nº101 e que atravessa também as freguesias de Sande São Martinho e Caldas das Taipas.

O marco miliário de Sande São Martinho está ainda nos dias de hoje exposto, conservado e visitável na Sociedade Martins Sarmento em Guimarães, no antigo Claustro de São Domingos.

Imagem do Claustro de São Domingos (Sociedade Martins Sarmento), onde se pode ver o marco miliário de Sande São Martinho, sendo o mais alto do lado esquerdo da imagem - Foto: Arqueólogo Gonçalo Cruz.