Nas costas dos taipenses
As obras padecem de defeito congénito da gestão da Câmara de Guimarães:são actos legítimos mas isolados de quem está habituado a concentrar o poder, de quem não envolve nas decisões senão os indefectíveis. Por isso, o projecto de intervenção no centro e vizinhança é mais do mesmo, um projecto de gabinete, uma obra em que Taipas não foi envolvida como podia e devia ser.
A um arquitecto muito premiado ouvi dizer que em Portugal temos o péssimo hábito de discutir pouco e pela rama os projectos, mas, em contrapartida, somos tolerantes e complacentes com os tempos para os concretizar.
A intervenção no centro cívico das Taipas é um caso exemplar.
A Câmara levou anos a dar conhecimento público do seu projecto. Esse documento saiu do estirador dos arquitectos sem que estes houvessem previamente auscultado moradores, comerciantes, associações e colectividades. O programa para esse projecto nasceu da imaginação e criatividade dos técnicos e não como resultado da participação das pessoas, singulares ou colectivas, que no seu quotidiano usam o território a transformar. Assim sendo é porque assim foi o projecto não é o projecto das Taipas, mas obviamente o projecto da Câmara com as consequências que daqui resultam: alheamento, desconfiança, pouco interesse.
A pouca discussão pública havida, agravado pelo facto de ter ocorrido no quadro pouco saudável de crispação da presidência da Câmara com a presidência da Junta, não foi capaz nem suficiente para acolher e tratar os contributos dos cidadãos. As sugestões e críticas, por exemplo em relação ao trânsito, ao estacionamento, arborização e jardinagem, bateram sempre na indiferença de quem a Câmara destacou para acompanhar e explicar o programa, confirmando que a equipa do projecto era de ideias fixas e pouco ou nada receptiva às opiniões diferentes.
A Câmara ouvia com enfado, abanando a cabeça enquanto ia dizendo que aquilo era a primeira ronda, outra haveria já com as alterações que fossem acolhidas, mas essa nova ronda de debate público não aconteceu.
Aliás, nem a Assembleia de Freguesia nem a Junta de Freguesia foram formalmente convocadas para também formalmente apreciarem e votarem a proposta da Câmara. Não se estranhe, a Câmara do PS age sem atender a outras opiniões que não a do núcleo da confiança pessoal de Domingos Bragança.
Podem dizer que este caso teve o tratamento do costume, que eu até posso concordar. Mas concordar não é dizer que a Câmara age bem.
Por falta de envolvimento das pessoas e instituições nas obras em curso, não se estranhe o coro de críticas.
[ndr] Opinião originalmente publicada na edição de maio do Jornal Reflexo.