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Mais 800 no desemprego

Cândido Capela Dias
Opinião \ terça-feira, fevereiro 06, 2018
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É mais do que tempo de recusar a falsa ideia das insolvências resultarem sempre de circunstâncias imprevisíveis e incontroláveis.

Os teóricos do chamado capitalismo popular gostam de evidenciar aquilo a que chamam de responsabilidade social das empresas como prova da falta de razoabilidade dos que as definem como lugar de exploração.

No momento em que escrevo, dois casos atestam que a empresa coloca acima do tal papel social a busca pela redução de custos e a procura do lucro máximo.

As descargas poluentes no Rio Tejo, protagonizadas por certa empresa de fabrico de pasta de papel e a sua reacção violente ao anúncio governamental de indexar a licença de descarga ao caudal do rio, mostram que o capital não tolera constrangimentos legais quando esses constrangimentos limitam e condicionam a sua actividade normal, actividade que atenta contra o Ambiente, atenta contra a comunidade. Esperemos para ver o que vai fazer o Governo, se vai ficar do lado do Ambiente e dos interesses da sociedade, ou se vai ceder aos interesses económicos da empresa e mandar às malvas os interesses das pessoas.

O outro caso de que vos quero falar é do encerramento de um grupo têxtil, empregando no seu conjunto cerca de 800 trabalhadores.

Ouvem-se estes, ouvem-se comentadores com indisfarçáveis simpatias pelo capital e todos convergem na ideia de uma insolvência a exigir mais do que uma decisão dos credores no sentido do fim abrupto.

Terá havido erros de gestão, concedem os tais comentadores. Dos credores, com excepção das trabalhadoras, mais uma vez em estado de vigília permanente para garantia dos seus créditos, nem uma palavra, nem um comentário.

E no entanto, entre os credores temos a banca e a Segurança Social! E se de banca não estranhamos o silêncio comprometedor, o mesmo não dizemos da Segurança Social, ou seja do Governo.

É mais do que tempo de recusar a falsa ideia de que as insolvências resultarem sempre de circunstâncias imprevisíveis e incontroláveis, porque por vezes os erros da responsabilidade dos gestores ou administradores resultam de actos de natureza pessoal alheios à empresa mas com esta a ser chamada a substituir aqueles junto da banca e com a cumplicidade desta.

As oitocentas trabalhadoras lançadas no desemprego e o Estado, na qualidade de credores e de lesados, merecem que a insolvência da Ricon seja investigada.