"I have a dream"
Numa tradução literal para português, escreve-se: “Eu tenho um sonho”, Mas numa tradução mais portuguesa, não abrasileirada, diz-se. “Tenho um sonho”, porque herdámos do latim que o verbo na primeira pessoa não necessita do pronome. Já diz quem é o sujeito.
O discurso de Martin Luther King, proferido há mais de 60 anos, em que clamou pela coexistência em igualdade de direitos entre brancos e negros, inspirou os vindouros para a evolução das tentativas de extinção do racismo e outras formas de discriminação.
O discurso de Martim Luther King clarificou muitas mentes que acordaram para o problema da discriminação baseada na raça que considero um crime contra a humanidade.
Também tenho um sonho e esse é o de que todos os cidadãos percebam os projectos e as obras realizadas pelos seus eleitos e fiscalizem com rigor o destino do seu dinheiro.
Somos todos os dias confrontados com projetos e mais projetos, anúncios e mais anúncios, a maior parte deles para lá dos mandatos dos anunciantes, e nem sequer imaginámos o significado prático deles.
O meu sonho de que todos os cidadãos deverão ver para além daquilo que aparece à luz dos nossos olhos e sentidos exige esforço a que os tempos modernos pejados de facilidade não convidam.
A Câmara do Partido Socialista anunciou que vai intervir na rotunda do Salgueiral e na circular de Creixomil.
A intervenção anunciada, ainda só com projectos, destina-se a intervir naquilo que a Câmara já interveio e há bem pouco tempo; vai gastar mais dinheiro onde já gastou dinheiro. É o reconhecimento, pela pior forma, de que gastou mal o dinheiro que lhe confiamos.
Na variante de Creixomil, o desnivelamento destina-se à fluidez do trânsito com destino à autoestrada e ao transito local, desencontrando-o. A execução da obra afunilou numa só fila o trânsito que desemboca na rotunda de Silvares, o que provoca filas intermináveis. Obra mal concebida que não previu as consequências práticas da decisão que um leigo na matéria aperceber-se-ia imediatamente.
Segundo anunciado, a rotunda do Salgueiral vai ser eliminada. É uma nova postura de trânsito necessária, porque as alterações do transito, com a construção de um supermercado perto daquela rotunda, congestionaram o transito.
O mesmo se diga do centro das Taipas: tem soluções de arquitetura que não podem ser mantidas e vai ser preciso gastar um segundo dinheiro para as corrigir. Maus projetos dão mais prejuízos do que benefícios.
Mais uma vez, a Câmara é autora e agride o espaço público do qual é a única exclusiva responsável.
O projecto da Via do Avepark é outro que se for concretizado só vai dar problemas e despesa futura ao erário público.
É um projecto horrível. Não resolve os problemas de mobilidade entre Taipas e Guimarães e da maneira como está concebido estraga mais do que o que vai beneficiar.
E não resolve, porque os pontos negros dos engarrafamentos continuam a ser o trânsito desde a ponte das Taipas à rotunda de Ponte; desde o cruzamento para o parque industrial de Ponte até Fermentões; e de Fermentões à cidade de Guimarães. E isso, a Via do Avepark não resolve; antes, aprofunda.
É um projecto que escolhe e destrói as terras de cultivo mais férteis na zona central do concelho; tenta atenuar os desníveis do terreno com aterros de grande envergadura; com aterros sem passagens por túneis, divide territorialmente freguesias; altera a topografia rural; elimina e destrói linhas de água, nascentes e minas.
É um projecto que, a ver a luz do dia, o que não se acredita, vai impor um encargo de manutenção futuro incomportável para o município.
Para aferir o que digo, tenho o sonho que os vimaranenses vissem e se apercebessem com seus sentidos e inteligência das soluções – erradas – que encontraram para construir uma via que até o Ministério Público põe em causa.