25 abril 2024 \ Caldas das Taipas
tempo
18 ºC
pesquisa

Guerra Fria, outra vez

Pedro Mendes
Opinião \ quinta-feira, outubro 22, 2020
© Direitos reservados
Se os problemas sino-americanos ganharam dimensão ainda na presidência de Barack Obama, não é menos verdade que a chegada de Donald Trump à Casa Branca escalou o conflito a níveis inimagináveis.

Desde que me lembro de ter interesses além do futebol na rua e outras brincadeiras, que sou um apaixonado pela história do Sex. XX. Sou aquilo a que podemos chamar “um gajo cheio de sorte”. Lá por casa sempre houve muita informação, desde a biblioteca do meu pai, à informação que me ia chegando pelos meus irmãos mais velhos, sob todas as formas e feitios; revistas, livros, banda desenhada, música, filmes, enfim, nada me faltou. Não raras vezes adormecia a ler enciclopédias com o peso de um tijolo. Lembro-me particularmente de uma enciclopédia geográfica que esteve, sem exagero, anos, no meu quarto, e à qual recorria quase diariamente para me maravilhar com as maravilhas do mundo.

Por isto e por outros impulsos familiares, ganhei um gosto especial pela história do Sec. XX que até aos dias de hoje nunca deixei de aprofundar, sendo que nesse mundo imenso houve duas coisas que sempre me fascinaram particularmente: A Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Hoje estou cá não para vos falar da história e dos factos de nenhuma delas, mas sim do fantasma, ou hoje já do presente e futuro de uma nova guerra fria.

Contrariamente ao que poderíamos pensar há apenas alguns anos aquando da invasão da Crimeia por parte da Rússia, esta nova Guerra Fria não é entre os EUA e a Rússia, mas sim entre os EUA e a China.

Se os problemas  sino-americanos são antigos, e ganharam alguma dimensão aquando ainda da presidência de Barack Obama nos EUA, não é menos verdade que a chegada de Donald Trump ao poder na Casa Branca escalou o conflito a níveis até há bem pouco tempo inimagináveis.

A escalada, que começou na já famosa guerra comercial entre os países, que rapidamente se alargou às questões tecnológicas (com ramificações inclusive em Portugal, com o Embaixador dos EUA a dizer que Portugal terá de escolher entre os EUA e a China, tentando pressionar Portugal para não fechar acordos com a Huawei na tecnologia 5G), que passou pelo recíproco fecho de embaixadas em Houston e Chengdu, expulsões de jornalistas e retóricas inflamadas, chegou agora ao ponto de estarem a ser intensificadas as manobras militares de parte a parte no sempre disputado Mar do Sul da China.

Não esqueçamos, caro leitor, que estamos a falar nada menos do que as duas maiores economias do mundo, duas maiores potências militares do Mundo e, hoje não menos importante, das duas maiores potências tecnológicas do mundo.

A analogia que vos fiz, entre o momento que vivemos e a Guerra Fria, pode à primeira vista parecer exagerada, mas peca, na realidade, por curta. Esta espécie de ascensão silenciosa que a China tinha vindo a fazer no plano internacional, já há muito contrariavam Fukuyama e o fim da história, mas agora, esta ascensão é cada vez menos silenciosa e cada vez mais uma realidade presente nas relações internacionais, e a escalada de tensão entre as super-potências é cada vez mais inevitável e os seus resultados cada vez mais imprevisíveis.