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Gripe das Aves

Redação
Opinião \ quinta-feira, março 02, 2006
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Todos os dias ouvimos falar de gripe das aves e do vírus H5N1. Afinal que doença é esta e porquê este nome esquisito?

Todos os dias ouvimos falar de gripe das aves e do vírus H5N1. Afinal que doença é esta e porquê este nome esquisito?

Esta doença é provocada por um vírus, o vírus da gripe. Este tem quatro géneros: o vírus da gripe A, vírus da gripe B, Vírus da gripe C e vírus da gripe D. O vírus da gripe A, por seu lado, está classificado em subtipos, de acordo com as duas proteínas que existem na sua superfície, a Hemaglutinina (H) e a Neuraminidase (N), as quais são responsáveis pela infecção do animal e pela produção de novos vírus. Para o vírus da gripe A foram identificadas 16 hemaglutininas (designadas de H1 a H16) e 9 neuraminidases (designadas de N1 a N9). Da enorme variedade de estirpes de vírus da gripe A de origem nas aves, só 4 foram reconhecidas como capazes de provocar infecção nos homens: H5N1, H7N3, H7N7 e H9N2. Destes, o H5N1 é o que está agora em causa.

O vírus da gripe apresenta uma elevada taxa de mutações (variações). As variações pontuais, pequenas, comuns aos vírus da gripe A e B, traduzem-se todos os anos, entre o final do Outono e início da Primavera, por pequenos surtos que atingem essencialmente o aparelho respiratório e que, para além de entupirem momentaneamente as urgências, não provocam preocupações de maior.

Então porquê a preocupação? Para o aparecimento de uma estirpe com potencial pandémico, são necessárias grandes variações, próprias do vírus da gripe A. Estas grandes alterações ocorrem com intervalos de décadas. Parece ser o caso do H5N1, que representa a maior ameaça à saúde humana. Desde há muitos anos, é o primeiro vírus da gripe de origem aviária a causar o maior número de casos humanos de doença grave e o maior número de mortes.

Os reservatórios naturais do vírus da gripe A são as aves aquáticas migratórias, especialmente os patos selvagens. Assim temos visto e ouvido na televisão que têm sido encontrados cisnes e patos mortos em diversos países com esta doença. As nossas aves domésticas são particularmente sensíveis à infecção quando em contacto com as aves migratórias, daí termos ouvido as ordens emanadas pelas autoridades dos locais onde apareceram essas aves mortas, para não soltarem as aves domésticas. Quando alguma ave doméstica é atingida todas as aves à volta são exterminadas. Este vírus já ultrapassou a barreira de espécie, isto é, já não é apenas entre as aves que se propaga, mas também passou destas para o homem.

No entanto para causar uma pandemia (epidemia que se estende a quase todos os habitantes de uma região e que pode afectar uma área geográfica muito extensa), é necessário que o vírus se transmita de pessoa para pessoa. Normalmente uma pandemia ocorre com uma média de 3 em 100 anos e com intervalos de 10 a 60 anos. Assim no século passado houveram:
Gripe Espanhola ou Pneumónica (1918) causada pelo subtipo H1N1, foi considerada a mais grave das pandemias 20 a 40 milhões de mortes.
Gripe Asiática (1957) causada pelo subtipo H2N2 2 milhões de mortes.
Gripe de Hong Kong (1968) causada pelo subtipo H3N2 1 milhão de mortes. As diferenças, no nº de mortos, são atribuídas às características do vírus e às melhores condições de vida e cuidados de saúde.
Não é possível prever quando vai ocorrer a próxima pandemia da gripe. Sabe-se que desde a última decorreram mais de 30 anos e que o vírus H5N1 altamente patogénico, possui quase todos os pré-requisitos para ser o próximo responsável. Só lhe falta conseguir transmitir-se de pessoa a pessoa. Contudo é bom recordar que o H5N1 já anda a fazer das suas desde 1997, altura em que foi detectado o primeiro surto de infecção humana ocorrido em Hong Kong. A fonte de infecção foi aves contaminadas. Desde então, a maioria dos casos detectados de doença humana tem história de contacto directo com aves doentes.

O vírus da gripe sazonal (o que ocorre todos os anos) transmite-se, sobretudo, por contacto directo, com inalação de gotículas infectadas por exemplo pequenas gotas expelidas com a tosse ou espirros) provenientes da pessoa doente, mas também através de órgãos ou produtos biológicos (sangue, urina, fezes etc), manipulação de cadáveres e contacto indirecto com objectos contaminados. Na infecção pelo vírus da gripe A (H5N1) existem evidências consistentes sobre a transmissão ave-pessoa. A possibilidade de transmissão ambiente-pessoa é limitada e não existem dados sobre a transmissão pessoa a pessoa.

Os peritos em saúde levam 8 anos a seguir este perigoso vírus e a maioria pensa que uma nova pandemia é inevitável. O perigo deste vírus resulta de ser novo para o ser humano não havendo, por isso, quaisquer defesas do nosso corpo contra ele. Quando se transmitir de pessoa para pessoa, deixa de ser um vírus da gripe das aves e passa a ser um vírus da gripe humano.

No Séc. XX as pandemias necessitaram de 6 a 9 meses para dar a volta ao mundo. A próxima pode chegar a todos os continentes em 3 meses. A Organização Mundial de Saúde calcula que possa haver entre 2 a 7,4 milhões de mortos (estimativa com base na pandemia de 1957 que foi relativamente benigna).
Que podemos fazer a título individual? Para já nada, a não ser rezar.

As vacinas (não disponíveis) e os medicamentos anti-vírais (de eficácia duvidosa) são as armas que se poderão usar. Infelizmente nenhum país estará preparado para responder num curto espaço de tempo a tantas necessidades.

Bibliografia:
Direcção-Geral de Saúde

Organização Mundial de Saúde