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Gastar para enganar

Manuel Ribeiro
Opinião \ sábado, abril 01, 2023
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A Câmara de Guimarães inscreveu no seu plano de atividades a construção de uma residência universitária no AvePark; um edifício chamado Escola Hotel na Quinta do Costeado e o programa 1.º direito.

Todos aqueles projetos que ascendem a mais de 40 milhões de euros estão projetados para serem co-financiados pelos fundos da União europeia – PRR e, talvez, outros. De outra forma não existiam, num exercício falacioso de que o dinheiro da União Europeia não é nosso.

São projetos cujo custo benefício e, principalmente, necessidade não foram avaliados, principalmente, a sua repercussão positiva e, por isso, legitimadora do investimento no futuro do concelho.

Projeta-se, gasta-se, e depois, vai-se ver se resulta.

Foi assim na plataforma das artes cujo custo de manutenção é elevadíssimo e será assim na residência universitária e na Escola/Hotel.

Claro que estas construções terão de ter alguma utilidade residual. No entanto, se não tiverem uma utilização plena serão fonte de empobrecimento do que progresso e enriquecimento.

A decisão de construir uma residência universitária no AvePark é por si estranha.

Não existem sequer indícios que a Universidade do Minho, dividida entre Braga e Guimarães, deslocalize qualquer uma das suas escolas para o AvePark. E se não existem escolas, com número mínimo de centenas de estudantes no Avepark, qual a utilidade de uma residência?

O argumento do IPCA, dos 3Bs, não é suficiente para esse investimento: O IPCA não é ensino superior universitário e os investigadores dos 3(Bês) não vão querer instalar-se numa residência universitária por tal lugar não ser adequado ao seu prestígio e ambição.

Quererão os estudantes, quaisquer que sejam, ficar instalados no meio de um ermo, sem transportes suficientes. Está claro que não vão querer lá residir.

A residência universitária, a ser construída no Avepark, está condenada ao abandono e ao insucesso. Vai ser dinheiro mal gasto, sem qualquer utilidade.

Face a este contexto e circunstâncias só se pode concluir que faltam ideias fortes ao executivo do município de Guimarães, uma linha que se afigure razoável para os gastos projetados.

O mesmo se diga da Escola/Hotel. Foi realizado algum estudo que conclua pela carência de profissionais no ramo da hotelaria no concelho de Guimarães e se essa carência, a existir, não está a ser suprida pelos cursos de hotelaria que funcionam por todo o país.

Não. A Câmara Municipal de Guimarães quer recuperar um espaço e projetou-o para uma escola/hotel de modo a poder justificar o dinheiro gasto e gastar. Se existe essa necessidade ou se nunca vier a existir, isso já é problema dos vindouros pois o limite dos mandatos já expirou.

Numa política de quem vier atrás que feche a porta, delapidamos recursos que nos fazem e hão de fazer falta.