Eleições menos livres nas candidaturas
Na sua crónica de 30 de Julho, no Diário de Noticias, António Barreto, a propósito da desinformação, contradições, censura, segredos de justiça, dos incêndios em Pedrógão, pergunta: “Que é feito dos homens livres do meu país? Estão assim tão dependentes da simpatia partidária, dos empregos públicos, das notícias administradas gota a gota, dos financiamentos, dos subsídios, das bolsas de estudo e das autorizações que preferem calar-se? Que é feito dos autarcas livres do meu país?
Em plena pré-campanha para as autárquicas, município e freguesia, conhecidas as listas de candidatos, torna-se imperioso perguntar: “que é feito dos homens livres do município e da freguesia.”
No concelho e na freguesia, assistimos a um progressivo ganhar de quota de mercado do município e das empresas municipais que, com a abundância de dinheiros públicos ou pela sua multiplicação concretizada no investimento público e venda dos serviços como privados fossem, invadem sectores, assumem protagonismos na produção de serviços e bens que afasta o investimento e fuga dos privados. Resultado, a maior empresa do concelho, a que tem maior orçamento e a que mais emprega, é o “Grupo” Câmara de Guimarães. Isto para não falar naquelas outras privadas que sobrevivem em grande parte devido aos ajustes da Câmara Municipal.
É a sectarização do concelho e da vida pública.
A coincidência de se conhecerem candidatos que trabalham sob a relação de contrato de trabalho para as empresas municipais faz supor uma identidade suspeita entre a liberdade de determinação e a vontade livre da candidatura.
É que a liberdade e o ser livre não se manifesta tão somente na parte de quem sofre pressões, coações, ameaças, promessas e comprometimentos; essa dimensão atinge quem se encontra nos lugares de chefia e, por força do cargo, tem uma especial obrigação de cumprir a liberdade e dignificar a pessoa que lhe está subordinada.
Quando, os “trabalhadores” das empresas municipais e afectas, isto é, dirigidas por eleitos locais, aceitam fazer parte – “encher monte” – para, alegadamente, defenderem o seu posto de trabalho, como se a força de trabalho não chegasse a troco do salário mínimo ou pouco mais, a dignidade de quem trabalha está posta em causa; e a dignidade de quem manda e ordena, fica manchada definitivamente.
A política deveria ser exercida por homens dignos, isto é, por aqueles que, em qualquer circunstância, respeitam os mais básicos direitos políticos e de auto determinação.
A liberdade deve ser exercida, proporcionada, promovida; nunca amordaçada.
A elaboração das listas para as autárquicas, em muitas freguesias, sofre desse vício que atenta contra a democracia: muita gente alinhou por razões que a sua consciência reprova. Mas é a “vidinha”...
O problema é que essa dependência não foi criada por eles; foi por quem manda e que são os únicos interessados em manter o poder, o domínio.
A médio e a longo prazo, esta forma de estar na política, assediando os cidadãos (trabalhadores) à inclinação partidária, desgraçadamente 43 anos depois do 25 de Abril, terá consequências desastrosas para os opressores.