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De volta à política do poucochinho

Sara Martins
Opinião \ quinta-feira, dezembro 13, 2018
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O projecto agora apresentado pela JF representa um enorme retrocesso em todos os avanços conseguidos. Desde logo ao denunciarem o contrato de compra e venda do terreno adjacente à praia seca.

No passado dia 23 de Outubro o executivo da Junta de Freguesia (JF) e o presidente da Câmara Municipal de Guimarães (CMG) apresentaram o projecto para a praia seca e oficializaram o regresso à política do poucochinho.

Qualquer projecto sério para Caldas das Taipas tem obrigatoriamente de passar pela requalificação ribeirinha e pela devolução do rio aos taipenses. Todas as candidaturas à junta de freguesia concordavam nesse aspecto e todas colocaram esse desígnio nos seus programas eleitorais. Este não pode ser um projecto a longo prazo, afinal já estamos privados do rio há mais de 20 anos.

O anterior executivo liderado por Constantino Veiga comprou a praia seca, pagou a entrada para os terrenos imediatamente a seguir, apreçou e apalavrou os restantes. Fez um projecto, com o maior especialista português em engenharia natural, Prof. Dr. Pedro Teiga, para a requalificação das margens desde a praia seca até às levadas de Além, e conseguiu a licença na Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Negociou apoio financeiro ao projecto, que estava dependente de candidatura da CMG ao fundo ambiental da APA e a fundos europeus, candidatura que a CMG não fez.

O projecto agora apresentado pela junta de freguesia representa um enorme retrocesso em todos os avanços conseguidos. Desde logo ao denunciarem o contrato de compra e venda do terreno adjacente à praia seca, confinando-a a uma área demasiado pequena e mostrando a falta de vontade e ambição.

O passadiço prometido na campanha eleitoral do PS é afinal uma plataforma com uns 10 ou 15 metros que não respeita o projecto inicial de requalificação das margens, nem as regras da APA que proíbem expressamente construções em leito de cheia.

O velho ressentimento das Taipas para com Guimarães advém desta política de repressão que a sede do concelho tem com as freguesias. Tal qual na época medieval, ainda hoje as freguesias de Guimarães vivem da migalha que cai da mesa dos nobres que habitam para lá da muralha. Infelizmente a junta das Taipas volta a compactuar com esta política.

Em 2013 a Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez adjudicou por 237 mil euros a empreitada de 22km de ecovia junto aos rios Lima e Vez. Hoje esta é uma das principais atracções do concelho. A ecovia do Minho, em Valença, foi considerada a terceira melhor via verde da Europa, tem 32 km e custou 815 mil euros. Os orçamentos destes municípios andam na casa dos 20 milhões de euros, muito longe dos 109 milhões de euros de orçamento da CMG.

Por cá o Presidente da Câmara que ser Capital Verde diz que a “ecovia do Ave é um sonho, um projecto de grande dimensão”. Domingos Bragança proferiu estas declarações no mesmo mês que adjudicou a requalificação do teatro Jordão por 11 milhões de euros. São 11 milhões para mais um equipamento cultural na cidade, mais um! Já recuperar os 30 km de margem do Ave que atravessam 13 freguesias do concelho com a construção de uma ecovia é um sonho. Não tenham dúvidas, a ecovia do Ave em Guimarães só é um sonho porque o rio não passa na cidade, se o Ave passasse no Toural era uma realidade há muito.

O meu avô David costumava dizer para não nos contentarmos com menos do que aquilo que merecemos. Estendo este conselho aos taipenses, com a certeza de que nós merecemos muito mais que 10 metros de passadiço.