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Cuidar de Pessoas Dependentes e Idosos

Redação
Opinião \ segunda-feira, setembro 14, 2015
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O cuidador do doente dependente é aquele que cuida de uma pessoa que perdeu a capacidade para se bastar si própria e que precisa de ajuda para atividades diárias como tomar banho e comer. Na maioria dos casos, a pessoa dependente encontra-se debilitada, fragilizada e precisa de apoio, paciência e compreensão.

Maria João Macedo
Médica Interna de Medicina Geral e Familiar
na Unidade de Saúde Familiar de Ronfe

Este artigo pretende ajudar o cuidador do doente dependente nas situações mais frequentes do dia-a-dia. Os cuidados com a higiene, alimentação e locomoção (transporte) são fundamentais para evitar infeções e complicações que piorem o estado do doente. Esses cuidados podem ser difíceis de prestar quando não somos enfermeiros, médicos ou outros profissionais de saúde.

1. CUIDADOR
A presença de um doente com necessidade de ajuda permanente em casa, altera bastante o dia-a-dia do cuidador. Este pode sentir cansaço físico e emocional, medo do sofrimento, da dor e da morte. Existe uma grande pressão social e financeira que o fazem sentir mais sobrecarregado, podendo sentir que é difícil lidar com a situação. Estes sentimentos são normais e frequentes, pois é uma situação que exige muito esforço físico e psicológico. Por isso é importante que o cuidador peça e aceite ajuda de outras pessoas sejam elas amigos, vizinhos ou familiares. Estes podem ajudar a cozinhar, limpar, fazer companhia ao doente ou tomar conta de crianças. Para desanuviar o stress e aliviar o cuidador, pode ajudar falar com alguém de confiança sobre os seus sentimentos e preocupações.

2. HIGIENE
O banho é essencial e proporciona conforto físico e emocional. O paciente deve escolher a melhor hora para seu banho. Se o movimento causar dor pode ser oferecida a medicação para as dores meia hora antes do banho. Quando o doente consegue tomar banho só, deve-se organizar o material necessário e coloca-lo próximo dele, mas não se deve deixá-lo sozinho pois pode precisar de ajuda! Se o doente não conseguir tomar banho sozinho deve ser ajudado a tomar banho na casa de banho ou na cama, mantendo uma temperatura agradável no quarto e sem correntes de ar. O material necessário deve ser organizado e colocado perto. As mãos devem ser lavadas antes de se prestar qualquer cuidado.

O banho deve ser iniciado pelo rosto prosseguindo até aos pés, destapando, lavando e secando uma parte do corpo de cada vez. O doente deve virar-se de lado para lhe lavar as costas. A zona genital e anal devem sem lavadas em último lugar, da frente para trás e, no homem, deve ser puxada a pele que cobre o pénis, lavada e secada cuidadosamente. Depois do banho deve-se aplicar creme hidratante em todo o corpo, massajando para ativar a circulação, incidindo nas zonas de maior pressão (ombros, cotovelos, nádegas, ancas e calcanhares) e devem ser mudados os lençóis. Se estas zonas estiverem avermelhadas, deve-se usar um creme rico em vitamina A e avisado o seu médico/enfermeiro. É muito importante lavar cuidadosamente os olhos e as orelhas; lavar a boca com dentífrico usando uma escova de dentes macia ou com elixir e uma compressa se o doente não colaborar; as unhas devem estar curtas e limpas; a cara, boca, mãos, axilas e os genitais do doente devem ser lavadas pelo menos uma vez por dia quando não for possível o banho completo e o cabelo apenas quando for necessário.

3. CUIDADOS NA MOBILIZAÇÃO DO DOENTE
O doente com limitações físicas que se mantenha muito tempo na mesma posição tem maior risco de aparecimento de escaras. Para diminuir este risco o doente deve alternar entre a cama e o cadeirão. Se não puder ir para o cadeirão, o doente deve ser reposicionado mudando de posição de 2 em 2 horas, variando entre o lado esquerdo, o direito, de costas ou de barriga para baixo, mesmo que ele sinta algum desconforto. Existem colchões e almofadas que reduzem a pressão e evitam a formação de escaras, podendo ser comprados em lojas de material médico. É muito importante evitar arrastar o doente na cama. Manter os lenções secos e sem rugas.

Quando o paciente precisar de ir à casa de banho procure dar-lhe a maior privacidade possível. Se houver pessoas no quarto, peça para saírem por um instante. Sempre que possível, é preferível que o paciente vá a casa de banho (sozinho ou acompanhado) mesmo que seja com algumas dificuldades.

4. ALIMENTAÇÃO
Em situação de doença é frequente que haja perda de apetite e de peso, independentemente da variedade e quantidade dos alimentos ingeridos. A dor diminui o apetite. Portanto, certifique-se que o paciente está a tomar a medicação corretamente para que a dor não dificulte a alimentação. É importante que a alimentação seja saborosa, colorida, e variada. Deve preferir-se alimentos da região e da época, os preferidos do paciente, alimentos fáceis de mastigar e acessíveis do ponto de vista económico.

O paciente deve comer as suas refeições, sem ajuda, sempre que isso for possível, mesmo que o faça muito lentamente. Se fizer as refeições na cama é muito importante que a cabeceira esteja bem elevada (podem ser usadas almofadas para este efeito). Deve receber 5 a 6 refeições por dia, em pequenas quantidades e servidas com uma colher para que ele não se magoe. É aconselhável que beba um litro e meio de água por dia, mesmo que não peça. Para aumentar a quantidade de líquidos ofereça-lhe pedaços de gelo, gelados ou gelatina. Se tiver dificuldade em engolir ofereça-lhe líquidos ligeiramente espessos (batidos de leite, de fruta ou iogurtes). Se for preso do intestino incentive-o a beber mais água e outros líquidos e a comer alimentos ricos em fibras (legumes, kiwi, ameixa, papaia, laranja, iogurtes e pão integral) e evite o chocolate, o queijo e ovos, que causam prisão de ventre.

5. SONO E REPOUSO
As pessoas dependentes têm tendência a dormir durante o dia, o que pode contribuir para as insónias durante a noite. Para o evitar mantenha o doente acordado durante o dia e ofereça-lhe bebidas quentes sem cafeína ao deitar.

6. DOR
Cada doente tem uma forma própria de sentir e expressar a sua dor. A dor deve ser permanentemente avaliada através das indicações do paciente. Quando a doença impede que seja o próprio doente a indicar ou a avaliar a dor que sente, deve-se estar atento aos sinais (gemidos, agitação, expressões faciais, etc). Os medicamentos devem ser administrados de acordo com a prescrição médica mesmo que o doente não sinta dor. Fale com o seu médico se a dor aumentar rapidamente, se persistir após a administração da medicação ou se o doente manifestar uma nova dor.

7. MEDICAÇÃO
A organização da medicação (doses e horários) deve ser feita com muita atenção. Todas as dúvidas devem ser esclarecidas com o seu médico de família antes de administrar os medicamentos. Mantenha a cabeceira bem elevada quando for administrar algum medicamento. Se não for possível elevar a cabeceira, vire-o de lado, e se houver dificuldade de engolir os comprimidos, triture-os e dissolva o pó numa pequena quantidade de água. Não se esqueça de verificar sempre a data de validade dos medicamentos

Algumas dicas importantes:
Fazer uma lista das tarefas do dia e cumprir primeiro aquelas relacionadas com seu paciente.
Talvez o doente tenha dificuldade em se expressar. É preciso ter paciência.
Repetir as perguntas quantas vezes forem necessárias. Pode ser que o paciente tenha tido dificuldade em entendê-las.
Não permitir que outras pessoas ou membros da família falem sobre problemas na sua presença. Isso pode deixar o doente angustiado.
Quando o cuidador se sentir cansado ou stressado, deve dividir as tarefas com outra pessoa (familiar ou outra). O trabalho de cuidar é de toda a família.
Se tiver dificuldades ou dúvidas sobre os cuidados a serem prestados, entre em contato com a equipa da sua Unidade de Saúde Familiar. Um profissional poderá orientá-lo, até mesmo por telefone.

Por último uma palavra de gratidão para si, que cuida de pessoas dependentes, por vezes com enorme sacrifício pessoal e familiar. Um bem-haja!