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Cercos sanitários, democracia e a santa da hipocrisia…

Nuno Vaz Monteiro
Opinião \ sexta-feira, junho 30, 2023
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Que pena merecia este indivíduo que assassinou a mulher nas Taipas? E o “famoso” Pedro Dias que assassinou um casal que ia para uma consulta de fertilidade e um cabo da GNR?

Por altura de mais uma morte às mãos do conjugue, desta vez aqui mesmo ao lado, pergunto-me que solução tem o cidadão comum para este flagelo. Melhor acompanhamento por parte das autoridades após denúncia? Habitações próprias para que o agredido possa ficar longe do agressor até certeza do ocorrido? Agravamento de penas para este tipo de crimes como efeito dissuasor? Eu acho que todos se complementam, mas acho, acima de tudo, que algo tem de ser feito, algo tem de mudar!

Na assembleia da república têm sido propostas alterações às molduras penais assim como alterações aos prazos de prescrição de crimes sexuais, de sangue e de corrupção, mas por culpa de ideologias ou de “cercos” nada muda e filhos vão perdendo pais, pais vão perdendo filhos, vidas que se destroem para todo o sempre.

Enquanto escrevo, recordo-me do caso mais recente, em Bitarães, Paredes. Este homem já havia cumprido pena de 20 anos por assassinar o cunhado com uma enxada e tentou agora matar a filha e a ex-mulher. E no nosso país há tanta mata para limpar, tanto serviço público à espera de mão de obra que poderia ser aproveitada com pessoas que cometem atos tão atrozes como o que mencionei.

E depois vem-me à memória o presidente Marcelo Rebelo de Sousa a dizer, em horário nobre, que a prisão perpétua é um retrocesso civilizacional, a negar que a maior parte dos países da Europa a usem, mesmo que revista de X em X anos. Em Espanha, aqui mesmo ao lado, é assim. Que pena merecia este indivíduo que assassinou a mulher nas Taipas? E o “famoso” Pedro Dias que assassinou um casal que ia para uma consulta de fertilidade e um cabo da GNR? E os assassinos da Valentina, em Peniche? Que pena merecem os assassinos da pequena Jéssica, em Setúbal? 25 anos serão suficientes em qualquer dos casos? O exemplo do que se passou esta semana, em Bitarães, prova que não. A justiça saberá diferenciar o que é um homicídio involuntário de alguém que pega numa faca ou numa enxada e a usa uma, duas, três vezes. Saberá perceber que não há volta a dar a alguém que escalda uma filha e a deixa em agonia a morrer no sofá da sala.

Ideologias…

Eu achava por bem que, diariamente, fossem divulgadas pela comunicação social as propostas de alteração e criação de leis na assembleia da república, quem as propõe e as posições dos partidos nas votações. O papel da comunicação social deveria ser instruir politicamente os portugueses para que percebam além da propaganda ou daquilo que a comunicação social quer e deixa que saibam. E o mesmo se passa localmente. Como se recusa uma moção na assembleia municipal de Guimarães que visa a criação de um programa de apoio à natalidade, com a justificação que é algo que deve ser feito a nível nacional e, depois, vemos cidades como Braga, Vizela, Barcelos e Póvoa de Lanhoso com programas semelhantes? Será que o cidadão comum tem conhecimento disso? Terá sido porque a proposta veio do representante do partido Chega e a maioria que governa Guimarães é a mesma que governa o país?

Sabem que uma mãe Vizelense tem direito a um “cheque bebé” de 1000€, sendo que 500€ são em numerário e os restantes em “vouchers” para descontar na “aquisição de bens ou serviços na área do Município de Vizela que sejam indispensáveis ao desenvolvimento saudável e harmonioso da criança”?

A política deveria ser pelo bem das pessoas, independentemente de quem propõe a medida ou a lei.

Vivemos num mundo onde as pessoas deixaram de ter pensamento crítico, de expor o que pensam, de pensar pela própria cabeça, num mundo onde a comunicação social manipula a seu bem querer e quem perde sempre é o cidadão.