Bucha - O ponto de não retorno.
À data em que vos escrevo, caro leitor, passam já 56 dias desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia. Esta guerra maldita, que todos queríamos que não acontecesse mas que teima em não ter fim, teve no passado dia 1 de abril aquilo que poderá ter sido o ponto de não retorno no que a uma solução diplomática do conflito diz respeito. Segundo as autoridades ucranianas, foram encontrados mais de 300 cadáveres de civis ucranianos na cidade de Bucha após a retirada das tropas russas. As execuções terão ocorrido durante o mês de março, numa altura em que a cidade estava controlada pelas tropas Russas. As imagens que correram o mundo são verdadeiramente grotescas e gráficas o suficiente para dispensarem a minha caracterização.
Não obstante a brutalidade do cenário, queria nestas páginas focar-me nas implicações diplomáticas que esta questão levantam. Se antes de Bucha, e independentemente dos horrores que qualquer guerra acarreta, a solução diplomática era ainda possível, aquilo que o mundo ali viu torna essa solução praticamente impossível. Se uma solução diplomática implicaria sempre uma cedência por parte dos ucranianos, com estas imagens, a compreensão dessas cedências por parte quer dos ucranianos quer da comunidade internacional fica altamente comprometida. Como podem os ucranianos aceitar algum tipo de cedência territorial que implique deixar cidadãos ucranianos à mercê de um exército capaz daquilo que se viu em Bucha? Muito dificilmente.
França - A luta pela democracia
Teve lugar no passado dia 10 de Abril a primeira volta das Eleições Presidenciais em França. Emmanuel Macron venceu essa primeira volta com 27,9% dos votos, mas terá na segunda volta a companhia da candidata fascista, racista e xenófoba Marine Le Pen, que obteve 23,1% dos votos. Numa altura em que a extrema-direita continua a ganhar terreno um pouco por toda a Europa, esta segunda volta será uma verdadeira luta pela democracia. Como muito bem fez notar Macron, esta será uma batalha decisiva para França e para toda a Europa. Este resultado de Le Pen, que já tinha, tal como o seu pai, conseguido ir uma vez à segunda volta das eleições presidenciais em França, não deixa de ser, tendo em conta o contexto, verdadeiramente surpreendente. Le Pen, próxima de Putin, a quem disse “admirar o facto de partilhar os mesmos valores”, tinha tudo para ser castigada nas urnas, mas a realidade é que não o foi. Centrando o debate nas questões económicas, muito importantes numa altura em que França, como toda a Europa, luta contra a crise provocada pela COVID-19 e agora agudizada pela invasão Russa à Ucrânia, com uma inflação como há muitos anos o continente não via, Le Pen conseguiu, prometendo soluções simples para problemas complexos, que as preocupações económicas dos franceses se sobrepusessem a todas as outras questões, nomeadamente ao seu passado muito recente de proximidade com Putin. Neste momento, e segundo a última sondagem conhecida, Macron poderá ter entre 51 e 54% dos votos, enquanto que Le Pen estará entre 46 e 49%. Estes são números verdadeiramente assustadores e que não podem tranquilizar nenhum democrata. Esperemos que os franceses vão votar, e que votem por rejeitar claramente o fascismo, o racismo e a xenofobia.