Banhos Velhos, que futuro?
A imprensa noticiou a apresentação do projecto e programa para os Banhos Velhos.
Começo por dizer que o caso já tem bafio e se pecado tem é o do atraso. Há anos que aquele conjunto termal está em degradação, sem que os seus proprietários reais ou presumidos dessem sinal de nele intervirem, recuperando-o.
Merece portanto aplauso quem quer que seja que agiu no sentido de inverter uma tendência profundamente nociva para o património edificado e para o património paisagístico das Taipas.
Ninguém nas Taipas e arredores desconhece quem, por desmazelo ou por opção consciente, terá contribuído para os Banhos Velhos chegarem ao estado que apresentam. Ele há responsáveis directos e indirectos, porque se conhece e julga, por vezes com base em preconceitos e inveja, os gestores que estiveram à frente da proprietária legítima e moral, enquanto se faz vista grossa, desculpa-se, quem estando mais longe domina essa mesma proprietária.
É facto que houve comportamentos no mínimo irresponsáveis dos administradores e gestores executivos da Turitermas. Que se saiba, só agora temos um programa. Ainda que mínimo e minimalista, e sobre ele já falaremos, é mais, muito mais do que até agora tivemos.
Pode discordar-se, como nós discordamos, da proposta apresentada, mas verdade seja dito que é um passo em frente, é uma avanço e como tal deve ser saudado, em vez de, como é useiro fazer-se entre nós, entrar no enxovalho e na verrina disfarçados de crítica. Criticar é contrapor argumentos aos argumentos dos outros, não é dizer mal nem insinuar.
Dito isto, retomemos o tema.
Pegar num edifício com as características, história e localização dos Banhos Velhos e limitar-se a pequenas obras de restauro e conservação, sem ir ao fundo das causas da sua degradação física, é antes do mais deitar dinheiro fora. Não intervir nos alicerces, não drenar e encaminhar as águas vadias que o cercam e corroem é operação de cosmética que pode dar a aparência de saúde mas não é garantia de saúde. Mais cedo do que tarde os donos ou alguém por eles serão chamados a nova intervenção na envolvente, porque a água e o tempo são implacáveis. E então, o dinheiro que agora se vai poupar talvez não chegue para pagar a recuperação.
Mas além de um problema estrutural, temos uma reserva programática. Compreendemos e aceitamos que no edifício recuperado se instale uma área museológica ligada ao passado, ligada à história do termalismo, logo ligada à história local. Mas se ficar por aí, se se limitar a isso, transformar-se-á num fóssil, no sarcófago que guarda a múmia, vista e estudada por meia dúzia de interessados e curiosos que nos demandam. A população viverá com ela, mas de costas para ela, divorciada dela, o que não é desejável e deve ser evitado. Como? Dotando os Banhos Velhos de uma valência que atraia público com regularidade, com um serviço que pela sua qualidade constitua um pólo de atracção. Por exemplo, uma casa de chá. Ou, porque não? um café-concerto.
Eu, sempre que tive oportunidade, procurei carrear dinheiro bastante para a recuperação de fundo que o estado dos Banhos Velhos reclama. Outros, com muito mais responsabilidades do que eu, nada fizeram nesse sentido e ainda inviabilizaram as iniciativas dos que querem fazer alguma coisa. Se o recordo agora, não é senão para provar que a verdadeira reabilitação dos Banhos Velhos exige muito dinheiro e a concertação de vontades e não se compadece que intervenções superficiais, por meritórias que se apresentem. Quem pensa o contrário vai sofrer um desgosto não tarda nada.