As obras que transformam o espaço público humanizado
Se me perguntarem se concluídas as obras na vila as mesmas vão ficar bem, isto é, melhores do que o que existia, não tenho resposta para essa questão. E não tenho resposta porque as imagens computorizadas que reflectiam o produto final das obras, já deu para ver, eram enganadoras. Nas imagens temos espaços abertos, luminosos e pisos bonitos e direitos.
No que já se pode ver feito, temos pisos de paralelo de terceira que vão ser difíceis de endireitar e se se generalizar ao resto da obra, teremos um aspecto final francamente pior do que o que era o centro da vila.
A ânsia reformadora e transformadora, está visto, para deixar marca pessoal, tem de ser realizada com inteligência.
E a inteligência que me estou a referir é o respeito pela obras de valor dos antepassados. Quando se destrói para reconstruir e não se respeita o passado, faz-se asneira.
Todos já vimos, em estabelecimentos de muita espécie, restaurantes, cafés fotografias das Taypas antiga.
A paisagem, o aspecto, a organização dos espaços, a circulação, as árvores e os espaços verdes reflectiam as necessidades, a visão e o sentir dos tempos e das pessoas que viviam naquela realidade passada. Por isso se diz, quando os espaços são preservados com o cunho original, que são lugares com história. A história das pessoas, das localidades, dos lugares tem a ver com a transformação da paisagem. E se essa transformação for total, a memória, a história terá tendência a perder-se, pois as construções e o que delas resta falam e contam muito sobre o passado.
Ao ver o desaterro onde esteve implantada a Capela de Santo António, junto à Casa do Menezes, eliminou-se aquela elevação de terra que nos permitia recolocar em imaginação a destruída Capela. Restava a elevação. Foi-se a elevação do terreno. A imaginação perde um motivo de criação.
A Capela foi demolida em 1917 creio pela voragem das modas intelectuais, culturais, e pessoais. Estas modas nunca deveriam chegar às criações humanas, aos artefactos que testemunham a existência do génio humano e que passamos sucessivamente às gerações vindouras.
A questão que incomoda é se os vindouros têm o direito de destruir o que os antepassados construíram, principalmente, aqueles artefactos que alteram a paisagem natural e humana. Defendo que os vindouros deverão preservar até ao limite os elementos culturais herdados com enfoque nos monumentos e na morfologia das ruas e praças. E se a demolição da Capela de Santo António é uma recordação que se vai desvanecendo, a alteração da paisagem humana e natural do Centro da Vila, com inicio na desaterro da elevação da Capela de Santo António, vai extinguir de vez a configuração do espaço público que há mais de 80 anos singularizam as Taipas no panorama concelhio e nortenho.
O cunho criacionista dos presentes e vindouros deve ser perpetuado em locais não transformados pelo homem, preservando a intervenção, a criação, dos antepassados.
Será que as Taipas vai ganhar? Para já perdeu uma memória e uma referência.