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30 anos: mais 30 vezes de responsabilidade

Manuel Ribeiro
Opinião \ segunda-feira, janeiro 22, 2024
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Neste contexto difícil, a criação do Reflexo e a sua sobrevivência por período ininterrupto é um marco digno de regozijo para a imprensa escrita, para a cultura e para os taipenses.

Quando se estuda história, no ensino básico e secundário, o que nos é transmitido é a narração dos grandes acontecimentos nacionais e internacionais.

São esses acontecimentos, os mais importantes, que se encontram em documentos oficiais e particulares, vestígios, memórias, arquitetura, construções, livros e literatura da época.

A história pretende ser uma reconstituição de factos passados e que, quase sempre, encontram reflexos no presente.

A invenção da imprensa, no século XV, foi uma revolução para a produção e divulgação das notícias, para o registo e conservação de factos e acontecimentos, para a informação e formação dos cidadãos.

Vem este introito a propósito da celebração do 30.º Aniversário do Reflexo.

Nas últimas três décadas assiste-se ao definhamento da imprensa escrita com a extinção de jornais, muitos deles centenários, pelo que, neste contexto difícil, a criação do Reflexo e a sua sobrevivência por período ininterrupto é um marco digno de regozijo para a imprensa escrita, para a cultura e para os taipenses.

Recorda-se que na vila, já em 1923, se publicava o Jornal das Taipas que pretendia dar eco das preocupações, reivindicações e aspirações das Taipas e da região envolvente.

O ressurgir da imprensa escrita nas Taipas é o “reflexo” da afirmação da zona norte do concelho e contribui para o registo de factos da vila, da freguesia e das localidades envolventes que de outra forma se perdiam na memória.

Mas não é essa só a função de um Jornal que cobre a vila e a sua zona de influência.

O Jornal Reflexo proporciona a reflexão sobre o passado, o presente e o futuro da localidade; proporciona saber; estudo e formação.

A vila e o seu legado histórico já não estão órfãos de informação, de registo, de história como o estiveram até 30 anos a esta parte.

O Jornal dos nossos dias já não é um repositório de noticias construídas de acordo com as suas características estruturais objetivas que responde ao “quem, onde, quando, o quê, como e porquê”.

Nos nossos dias, o Jornal é um espaço de informação, reflexão, formação, de análise critica e, acima de tudo, expressa a pluralidade de posições e opiniões sobre o mesmo acontecimento ou problema.

O jornal é e deve ser um produtor de uma sociedade mais justa e pluralista, consagrando nas suas páginas a mais vasta heterogeneidade de gostos, tendências, de modas, de pensamentos, de ideologias, no mais amplo respeito pelos direitos fundamentais que deverão constituir o seu limite base.

Mais do que democracia, no sentido restrito de que o povo é que elege os seus representantes, o jornal é um produto e um produtor do estado de direito material, porque deverá albergar sempre e sem ceder, nas publicações que faz, a liberdade de pensar, de dizer, de criar, de criticar, de representar todos os grupos sociais.

E nesse sentido, a produção de um jornal deverá ser o resultado de todas as forças sociais, um produto das minorias, do governo e da oposição, das artes e dos ofícios (industria), do comércio, do lazer, das associações e comissões informais, dos movimentos e da sociedade civil.

Conforme já se escreveu nestas páginas noutros escritos, a imprensa escrita atravessa grandes dificuldades – veja-se o que está a acontecer na Global Média que é dona do JN, DN, O Jogo, a Lusa e a TSF – pelo que a tentação de ceder a interesses mais fortes, quer políticos quer económicos, é uma realidade que quem dirige os jornais tem de saber resistir.

O Reflexo, ao completar os trinta anos, entrou na idade madura do jornalismo, crescendo em responsabilidade na igual medida.

A imparcialidade, a isenção, a abrangência do Jornal tem de ser um desígnio permanente que honre a imprensa livre e os seus trinta anos de existência.

A terra deverá agradecer este serviço público.

Parabéns Reflexo.