A imprensa escrita em Guimarães
A imprensa escrita regional e local, assim como a nacional, tem definhado lentamente mas inelutavelmente.
A imprensa definha em contra ciclo com a formação dos cidadãos: em toda a nossa história nunca tivemos uma tão pequena percentagem de analfabetos e um tão grande número de licenciados.
Esse facto poderia indicar que o número de jornais em vez de diminuir, aumentasse. Mas não é assim. Acontece um paradoxo ilógico difícil de aceitar que nem a subscrição dos jornais online supriu.
No mundo moderno, no mundo multimédia, as fontes de informação são tão variadas que a imprensa escrita, que antes era a fonte quase única de informação, perdeu espaço mas não importância.
Os jornais ainda são uma fonte de informação e de opinião essencial às sociedades modernas. São uma fonte de saber, informação, conhecimento e história.
O jornal em papel tenta sobreviver e para isso tenta modernizar-se com a adaptação do tamanho às exigências modernas: o jornal tablóide – quase do tamanho das revistas – aparece para ser mais apelativo, para se perpetuar e ser mais fácil de guardar.
Cada vez somos mais digitais, o que quer dizer mais imateriais. Há quem diga que o desaparecimento da imprensa escrita é certa. Isto é, os jornais em papel vão desaparecer. Ainda não tenho estrutura mental para acreditar nisso.
E se em alguns concelhos a imprensa escrita vai aguentando as dificuldades do momento, em Guimarães, desaparecerem jornais periódicos sem que sua falta tenha sido suprida pelo aparecimento de outros.
A existência de mais jornais é garantia de diversidade de opinião, de pluralismo, de heterogeneidade, e de qualidade na informação. Os jornais são um pilar do estado de direito e da democracia, se é se podem existir uma sem a outra.
A crise da imprensa escrita tem a ver com a insuficiência da venda dos jornais para cobrir os custos de edição.
Esse défice tenta ser colmatado pelas inserções publicitárias pagas.
É notório, basta ver as contas dos grandes grupos nacionais de multimédia para constatar que as receitas de publicidade angariadas pela imprensa escrita estão a cair, ano a ano; as da televisão e de outros conteúdos está a subir, com excepção as angariadas no tempo da pandemia que não pode ser referência.
Na imprensa local, um dos grandes anunciantes é o município por força do cumprimento dos deveres legais.
O município tornou-se um anunciante determinante na sobrevivência dos jornais locais.
Quem governa o município sabe disso e não lhe é indiferente tal facto.
Os municípios assim como qualquer entidade e órgão da administração do estado está obrigada a reger-se por princípios da imparcialidade, isenção e igualdade dos seus munícipes.
Ao celebrar um contrato administrativo, a publicação do anúncio pago, o município tem de assegurar que o faz respeitando os enunciados princípios.
A vereação do PSD na Câmara Municipal tem chamado à atenção do executivo socialista da necessidade de um controle dos critérios, que se querem iguais, na distribuição dos anúncios do município, defendendo que a atribuição deve ser pautada por critérios equitativos.
A falta de equidade na atribuição de anúncios pode ser a diferença entre a existência ou a extinção de um órgão de comunicação social.
A consciência dessa realidade pode atirar a Câmara Municipal para tentação de anunciar só em jornais que sejam mais simpáticos, menos críticos, mais alinhados e conformados com as políticas do município.
Acontecendo cair nessa tentação, está-se a violar o princípio da liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, o pluralismo democrático com reflexos efectivos no exercício do direito de oposição que, deverá conter esta dimensão.
A oposição está atenta a que a democracia não seja só um anúncio formal, mas assume contornos verdadeiramente materiais e concretizados.