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Acidente Nuclear no Japão Fukushima e implicações em Portugal

Redação
Opinião \ sábado, maio 07, 2011
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Por ano, em média, estamos expostos a um total de 3 mSv (80% origem natural raios cósmicos do espaço e materiais radioactivos naturais (ex:radão); 19,4% por tratamentos e exames médicos e 0,4% outra). Podemos contactar com os radioisótopos directamente pela pele (contacto), pela respiração (inalação) e pelos alimentos (ingestão).

No dia 11 de Março de 2011 houve um terramoto (sismo) no Japão. Na província de Fukushima há uma central nuclear, situada a 250km a norte de Tóquio, capital do Japão, nas cidades de Futaba e Ohkuma. Está em funcionamento desde 1971 e é formada por vários reactores nucleares.

Nesta central há produção de energia a partir da desintegração de substâncias a que se chamam radioisótopos. A energia é libertada em forma de radiações ionizantes que depois é transformada noutras formas de energia. Estas reacções dão-se dentro dos reactores nucleares, estruturas construídas com vários sistemas de segurança, que impedem a fuga destas substâncias para o exterior.

Com o sismo houve falha nos sistemas de segurança dos reactores nucleares o que deu origem a saída de radioisótopos (átomos radioactivos como o Iodo-131, Césio-137, Plutónio...), em forma de nuvem (pluma). Esta pode ser arrastada pelo vento ou depositar-se no solo e contaminar os alimentos e a água.

Este material vai-se desintegrando ao longo do tempo, com libertação de radiação ionizante. É um tipo de radiação que tem uma quantidade de energia suficiente para provocar alterações nos nossos tecidos biológicos, por ionização. A dose de radiação que cada pessoa recebe é medido em Sievert Sv.

Por ano, em média, estamos expostos a um total de 3 mSv (80% origem natural raios cósmicos do espaço e materiais radioactivos naturais (ex:radão); 19,4% por tratamentos e exames médicos e 0,4% outra).

Podemos contactar com os radioisótopos directamente pela pele (contacto), pela respiração (inalação) e pelos alimentos (ingestão).

Para diminuir as consequências e tentar preveni-las existem orientações internacionais. Quando os níveis são superiores a 50 mSv as pessoas tem de abandonar a zona evacuação e quando são superiores a 10 mSv as pessoas devem permanecer dentro de casa, pouco expostas à pluma durante a sua passagem - abrigo. Em Fukushima todas as pessoas que viviam num raio de 20Km da central foram evacuadas e as que moram entre os 20-30km da central foram aconselhadas a ficar em casa abrigadas. Foram detectados iodo-131 e césio-137 em 8 províncias e em leite e vegetais da região.

A exposição a altas doses de radiação (superior a 100 mSv) aumenta o risco de ter cancro (exemplo: tiróide, especialmente nas crianças; leucemia ou outros) e quando é superior a 1000 mSv podem haver queimaduras, cataratas, danos no sistema nervoso central, dano na medula óssea e o Síndrome de Radiação Aguda. Nestas últimas situações quanto maior for a quantidade de radiação, mais grave é a situação. No Japão 21 trabalhadores receberam quantidades maiores do que 100 mSv. Os 3 trabalhadores que foram internados no hospital receberam uma dose maior do que 170 mSv.

Para prevenção do cancro da Tiróide podem ser dados comprimidos de iodeto de potássio. É especialmente eficaz nas crianças até aos 18anos. Em Fukushima começaram a ser distribuídos no dia 16 de Março.

A escala INES Escala Internacional Nuclear e Radiológica, é usada para classificar e explicar a importância dos eventos radioactivos. Há 7 níveis, de 1 a 7, sendo o nível 7 um acidente muito grave. Fukushima começou por ser classificado com o nível 5 (Acidente com consequências de maior alcance, fora da instalação da central) e em Abril foi reclassificada depois de uma reavaliação da situação, com o nível 7 Acidente grave.

A pluma já foi arrastada pelo vento para outras zonas. Em Portugal as concentrações de iodo e césio, medidas no ar na estação de Sacavém do Instituto Técnico e Nuclear, têm origem presumível no acidente que ocorreu no Japão e NÃO REPRESENTAM QUALQUER PERIGO PARA A SAÚDE E PARA O
AMBIENTE.

Foi reforçado o controlo radiológico aos produtos alimentares e de alimentação animal que vêm do Japão
e existe uma rede de alerta radiológico (RADNET) com 13 estações que medem os radioisótopos em Portugal. Os órgãos envolvidos na resposta a emergências nucleares são:

Internacionalmente:
> Agência Internacional de Energia Atómica;
> Organização Mundial de Saúde;

Em Portugal:
> Autoridade Nacional de Protecção Civil;
> Agência Portuguesa do Ambiente;
> Direcção-Geral da Saúde;
> Instituto Tecnológico Nuclear;
> Direcção-Geral de Energia e Geologia.

Se tiver alguma dúvida contacte a Linha Saúde 24: 808 24 24 24.

Ana Menezes - Médica