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A dança intolerável dos presidentes de junta

Manuel Ribeiro
Opinião \ terça-feira, fevereiro 14, 2017
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Sabe-se que a mudança de partido pelo candidato não é gratuita. Se a compensação for institucional, menos mal; se for pessoal, é muito mau.

De quatro em quatro anos é uma constante: presidentes de junta em funções eleitos por um partido a anunciarem que vão concorrer por outro. A constante é que os presidentes de junta mudam-se, não para qualquer partido, mas para o partido que domina a Câmara Municipal. No concelho de Guimarães, o PCP tem sido a maior vítima na “dança” de presidentes. Agora, acontece com presidentes de junta eleitos pelo PSD.

Deverá colocar-se a questão: porquê?

Sabe-se que a mudança de partido pelo candidato não é gratuita. Se a compensação for institucional, menos mal; se for pessoal, é muito mau.

Sabe-se que a componente de benefício institucional arrasta benefícios pessoais: veja-se, a título de exemplo, o presidente da junta de Moreira de Cónegos, que se mudou para o PS, e foi-lhe dado emprego pago pelos dinheiros públicos.

Por um lado, essa “dança” é a prova pública de que as obras a realizar nas freguesias são competência e responsabilidade das Câmaras Municipais.

Serve ainda para demonstrar que, se a “dança” de candidatos for por causa das “obras”, as mesmas não estão feitas ou não se pensam fazer em função de critérios puramente partidários;

A “dança” de presidentes tem essa base. Agora que o presidente é da nossa cor partidária, vai-se fazer.

Diz o povo, os acríticos, que se o presidente da junta for da mesma cor política da câmara, as obras necessárias – e só essas é que têm lugar no espaço público – fazem-se; de outra forma não se fazem.

E o povo afirma isto com uma inocência salazarenta cujo bafio tresanda. E o pior é que esta falsa ideia, anti democrática na génese e nas consequências, violadora da autonomia das duas entidades – freguesia e município – é alimentada, com bolos, circo e empregos pelo PS e pela prática do município.

O povo não pode assistir a este espetáculo violador dos direitos das populações, das freguesias, dos lugares, das ruas, às vezes, dos mais básicos direitos – limpeza, saneamento, circulação viária – de uma forma impávida e conformada.

Uma câmara que não faz, e pode; não porque as obras, as intervenções não sejam necessárias, mas para “castigar” o presidente de junta que foi eleito por outro partido, comete um crime contra o estado de direito, contra as necessidades das populações, deve ser penalizada, na denúncia, na pressão e, principalmente nas urnas. O povo deve saber disso e estar atento. Essa pessoa, esse partido, essas candidaturas devem ser punidas porque são desonestas politicamente e não esperem que o sejam a outro nível. Com a desonestidade não existe tolerância.

Assim, adia-se o presente e o futuro por causa de motivações inconfessáveis de autênticas seitas partidárias que pululam a pretexto de serviço público.

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Publicado no jornal Reflexo #248, de Fevereiro de 2017

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Nota do autor
Na última edição do jornal Reflexo, publicação do início de Fevereiro 2017, na crónica da minha autoria, afirmei que o presidente da Junta de Moreira de Cónegos seria um caso de mudança de partido e que "lhe foi dado emprego pago pelos dinheiros públicos".

A informação que recebi de fontes aparentemente insuspeitas levava a afirmar aquilo que afirmei. No entanto, melhor informado e esclarecido, venho dizer publicamente que o presidente da Junta de Moreira de Cónegos não tem qualquer emprego público e não é pago por dinheiros públicos em contrapartida de cargo público de nomeação.

Fica a retificação para que o bom nome das pessoas seja restaurado.