Segunda vaga chega com números preocupantes
Confinar deixou de ser uma hipótese, a economia dita as suas leis e um pouco por toda a Europa a segunda vaga da Covid-19 tem sido combatida com menos restrições do que aquelas que se verificaram em março. Contudo, a ameaça nesta fase é muito mais severa e os números comprovam-no. O número de novas infeções tem subido de uma forma geral, sendo que no caso de Guimarães os números requerem especial atenção.
O Reflexo teve acesso a documentos oficiais onde estão expressos números preocupantes. Desde o início da pandemia o concelho de Guimarães já teve mais de 3500 casos (última confirmação oficial a 28 de outubro: 3491 infetados desde o início da pandemia) de infeção, e, sabe o Reflexo, desde o início da pandemia até ao dia 25 de outubro registaram-se 46 óbitos em Guimarães.
Entre 21 de setembro e 27 de outubro registaram-se 1889 novos casos no concelho, o que significa uma média superior a 52 casos por dia nestes 36 dias, segundo os dados fornecidos pela Câmara Municipal de Guimarães de Acordo com o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Alto Ave. Na informação recolhida pelo nosso jornal sabe-se também que no dia 22 havia 132 casos ativos nas Taipas, 77 na Unidade de Saúde Familiar (USF) Duovida e 55 na USF Ara de Trajano.
Com estes números Guimarães era no dia 26 de outubro o quinto concelho da região norte do país com mais casos registados nos últimos sete dias, apenas suplantado por Paços de Ferreira, Porto, Matosinhos e Gaia. Neste período Guimarães foi o concelho do distrito de Braga que mais novos casos registou, 815 novos casos, seguindo-se Braga com menos de metade, 394 casos.
Saindo do plano estatístico, mais do que os números, esta segunda vaga da Covid-19 vai por à prova o Serviço Nacional de Saúde e a sua capacidade de resposta, sendo já notória a falta de capacidade de reposta nas USF, estando também os hospitais a atingir níveis de ocupação que geram preocupação
Hospital Senhora da Oliveira preocupado
O Reflexo falou com Hélder Trigo, diretor clínico do Hospital Senhora da Oliveira de Guimarães (HSOG), principal unidade hospitalar da região. Sendo Guimarães um dos concelhos mais afetados nesta segunda vaga, a preocupação aumenta relativamente ao nível de preparação do hospital.
Hélder Trigo deu conta ao nosso jornal que “o HSOG continua empenhado em responder não só aos doentes Covid-19, como a todos os outros que nos procuram e têm necessidade dos nossos serviços”, acrescentando que “não é fácil nas circunstâncias atuais” agilizar a organização dos recursos humanas, garantindo, no entanto, que “tem sido conseguido equilibrar a nossa atividade, dando resposta a esses dois níveis, Covid-19 e não Covid-19.
Em declarações à Agência Lusa o mesmo responsável clínico informou que a “taxa de ocupação é, necessariamente, elevada, mas, até ao momento ainda não foi adiada nenhuma consulta, nenhuma cirurgia ou meio auxiliar de diagnóstico por causa da pandemia, nesta segunda onda.
Salvaguardando sempre que “o hospital tem conseguido dar resposta”, Hélder Trigo considera que os números recentes “inspiram uma certa preocupação” e que, a manterem-se, poderão causar problemas. “Se se mantiver o atual ritmo de crescimento de novos casos obviamente poderá haver problemas”, aponta.
Problemas psiquiátricos estão a aumentar
Para além de todas as problemáticas de saúde que são conhecidas, não só no que a doentes Covid-19 diz respeito, mas também a outras patologias, há outra cujos danos podem não ser vislumbrados à vista desarmada mas que cada vez mais começam a ser uma realidade, crescente, e tem preocupado os profissionais do setor. É o caso dos problemas psicológicos, que se começam a sentir e não se sabe ao certo que evolução poderão vir a ter.
Patrício Ferreira, médico psiquiatra e diretor clínico da Casa de Saúde de Guimarães, em Caldelas, considera que “há vários pilares que de uma forma geral têm contribuído para um agravamento da saúde mental da população mundial”, revelando ao Reflexo que na clínica que dirige “as queixas têm aumentando” a este nível.
O psiquiatra aponta alguns dos fatores que estão na origem destas queixas. “Não sabemos onde estamos, o que cria uma situação de incerteza a todos os níveis que tem criado nas pessoas aumento significativo dos níveis de ansiedade, o que depois se traduz em muitas outras queixas: pelo que temos visto na nossa clínica isso provoca depois muitas alterações no sono, muitas preocupações, muitas queixas dolorosas, de uma forma geral. Depois temos sensações que muitos de nós nunca experienciamos, este afastamento das pessoas. As pessoas estão habituadas a socializar muito e não o fazem, mesmo com as tecnologias, porque já percebemos que um telemóvel não substitui um abraço. Temos experiências de solidão terríveis de pessoas que estão literalmente isoladas. Por outro lado, estaremos na chamada segunda vaga e sente-se outra coisa que em termos psicopatológicos será um conflito. Todos os dias notamos as pessoas ambivalentes: por um lado percebe-se que isto não pode parar, por outro lado acham que deveriam fazer alguma coisa”, explica.
Assegurando que “os médicos estão a trabalhar mais do que nunca sobre pilares que ninguém domina muito bem”, Patrício Ferreira assume que é difícil encontrar mecanismos para atenuar estas dificuldades, defendendo, ainda assim, que não é recomendada a procura profilática de ajuda a este nível. Ainda assim, deixa alguns conselhos: “Se as pessoas tiverem estratégias de poderem não estar completamente fechadas em casa, se puderem ter rotinas e este hábito de, com cuidado e responsável, ter os seus momentos ao ar livre é importante, porque de facto ficar em casa fechado é complicado, é importante”.