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Quem casa quer festa e sem festa ninguém casa

Manuel António Silva
Sociedade \ sexta-feira, maio 15, 2020
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A situação de emergência em que o país está mergulhado derivado ao novo coronavírus parou por completo a chamada “indústria dos casamentos”.

Desde empresas de organização de eventos, detentoras das Quintas onde habitualmente se realizam as festas de casamentos e outros eventos, aos fotógrafos, empresa de decoração, de catering, de animação, vendas de vestuário de noivas e noivas e etc, são milhares de eventos já cancelados, com um risco muito elevado de, até final deste ano, continuarem praticamente sem trabalhar.

Uma situação que, apesar de tudo, ainda pode ser reparada nos próximos anos, dependendo das possibilidades de cada um para aumentar a capacidade de realizar mais eventos do que aqueles que estavam habituados a realizar anualmente. Isto porque se tratam de iniciativas que podem ser reagendadas, levando a uma maior sobrecarga de trabalho para as empresas que poderão, caso tenham capacidade para o fazer, quase duplicar o seu trabalho. Por outro lado, as limitações que eventualmente possam vir a ser impostas para a realização destes eventos, nomeadamente no que respeita ao distanciamento social, podem vir a limitar a lotação dos referidos espaços e, dessa forma, levar as empresas a incrementar os seus preços. Para já, são apenas cenários possíveis. Não há ainda muita informação sobre o assunto e as próprias empresas não sabem muito bem com o que contar.

As dúvidas ainda são muitas. Ninguém sabe ainda quando poderá ser retomada a atividade e, muito menos, em que condições vão poder voltar a fazê-lo. Que condições serão impostas, que medidas e restrições ao funcionamento dos espaços, em termos de lotação, por exemplo, serão adotadas? Há ainda, pois, muita incerteza no ar. Poucas respostas.

Duma coisa parece não restarem dúvidas: à semelhança de outras, esta é uma indústria que está praticamente parada e não se sabe muito bem por quanto tempo?! Foi no sentido de perceber o impacto que esta situação está a ter nessas empresas que abordamos três das mais representativas da nossa região. As respostas à nossas questões, não variaram muito.

Para Isabel Almeida, gerente da Quinta Vila Marita, em Santa Maria de Souto, “toda esta situação está a afetar muito o negócio. Para o ano de 2020 entre casamentos, batizados e primeiras comunhões estavam previstos cerca de 130 eventos. Neste momento, todos os eventos existentes até ao final do mês de junho foram já adiados, sendo que grande parte tem já nova data entre o final deste ano e o próximo. É desta forma que estamos a proceder, concedendo aos clientes a possibilidade de reagendar o evento entre este ano e o próximo”.

Hélder Silva, gestor de eventos na Quinta da Granja, em Balazar, refere também que “neste momento, todos os eventos estão a ser adiados e alguns deles, a ser mesmo cancelados. Tínhamos agendados cerca de uma centena e eventos e muitos outros de agendamento previsto. O que estava previsto até julho está tudo adiado e estamos já a adiar eventos que se iriam realizar no mês de agosto. Todo este processo tem sido um pouco difícil. Estamos a falar, em alguns casos, já com evento marcado há mais de 2 anos, que implica também fazer um reagendamento, com todos os fornecedores, para uma outra data. Praticamente todos os eventos estão a ser reagendados para 2021”.

Por seu turno, Luís Miguel Silva, proprietário da Quinta Cedro do Ave, dá conta que “todos os eventos foram reagendados para novas datas, uns para o fim deste ano, outros para datas equivalentes em 2021. Dos mais de 60 eventos que tínhamos marcados, nenhum foi cancelado. Estão todos em reagendamentos e outros ainda mantém as datas previstas inicialmente”.

Precisamente sobre o ponto de situação da agenda para o próximo ano, a responsável da Quinta Vila Marita refere estar “praticamente preenchida, sobretudo no que respeita aos finais de semana, entre o mês de maio e setembro”. Constata ainda que se nota um “ligeiro abrandamento” para 2022 “na procura por parte de noivos, o qual esperamos possa ser ultrapassado com o retorno à vida normal, ainda que consideremos que vá ser um processo lento”.

Para o próximo ano, a Quinta da Granja também está com a agenda bem preenchida, situação que já se verificava antes desta situação. “Para 2011, estamos com uma taxa de ocupação muito boa pelo que, esperamos poder retomar o nosso trabalho o quanto antes, tendo sempre em conta que no mundo dos eventos não pode haver muitas restrições referentes ao convívio e à proximidade das pessoas que neles existem. Caso a retoma tenha de ser com algumas dessas restrições, não acreditamos que se possa realizar qualquer tipo e evento, enquanto elas se mantiverem”.
Na Quinta Cedro do Ave o cenário é idêntico. Uma agenda sobrecarregada de trabalho com os eventos que estão a ser reagendados a acrescer aos que já estavam marcados.

Os três responsáveis pelos espaços de que temos vindo a falar, estimam que os prejuízos causados por esta situação sejam significativos. Luís Miguel Silva prefere, no entanto, encarar esse “prejuízo” como uma “quebra na faturação” que será compensada em 2021. “Mesmo com as restrições que possam vir a ser impostas, eventualmente, com redução da lotação para 1/3 da atual – que no nosso caso é de 522 pessoas – ainda ficaremos com condições para continuar a trabalha”, referiu Miguel Silva.

Isabel Almeida, da Quinta Vila Marita, atendendo à elevada probabilidade de ser imposto pelo Estado um limite máximo de convidados como forma de salvaguardar a saúde dos clientes e staff, admite que a sua Quinta “procurará adaptar-se a tal condição reduzindo, por exemplo, o número mínimo de convidados que habitualmente é exigido aos noivos”.

Já para Hélder Silva, da Quinta da Granja, “a realização de casamentos e todos os restantes eventos, sem haver um simples abraço, um aperto de mão, é qualquer coisa de inimaginável. Muito sinceramente, penso que sem isso não podemos realizar qualquer tipo de evento”.
Com todas estas condicionantes e incertezas, é expectável que se venha a sentir um forte impacto económico negativo no setor. Hélder Silva entende que a esse nível, “a retoma possa vir a ser demorada” encarando-a, no entanto, “com otimismo”. “Temos de pensar no futuro. Reinventarmos não vai ser fácil mas, não podemos baixar os braços”, disse a este propósito.

Para isabel Almeida, “é expectável que com toda a situação corrente exista um grande impacto negativo no setor dos casamentos, o qual creio que irá ser sentido durante todo o ano de 2020 e possivelmente de 2021. Ainda que possamos gradualmente voltar à normalidade, a insegurança irá permanecer nas pessoas o que não as incentivará a procurar realizar este tipo de eventos. Para além disso um casamento, por exemplo, é suposto ser um dia de cumplicidade e afetos e não de distanciamento daqueles que os noivos mais amam”.

Na Quinta Cedro do Ave, este período tem sido aproveitado para o pessoal que integra o staff poder descansar, “coisa que alguns não sabem o que é há mais de 16 anos” e, ao mesmo tempo, realizar algumas intervenções de fundo no espaço, no sentido de o dotar de melhores condições para que a retoma seja realizada com “mais energia e força, num espaço renovado, com áreas mais amplas”.

Artigos de vestuário para casamento não se vendem

Esta é outra das áreas de negócio relacionada com a cerimónia dos casamentos. Os artigos de vestuário para casamentos. No caso concreto, a Marilene Noivas, empresa radicada na vila das Taipas há 21 anos e que comercializa artigos de vestuário exclusivamente para noivas e noivos, desde março que regista uma quebra das suas vendas na ordem dos 100%.

Helena Oliveira, gerente daquele espaço comercial, dá nota que todos os indicadores apontavam para “um ano de 2020 excelente para esta atividade, no entanto, a partir de março as vendas caíram 100%. Os nossos noivos com casamentos marcados para abril e maio, não cancelaram, mas optaram por reagendar ainda para 2020. Os casamentos marcados para junho, julho e agosto, a maior parte estão a ser reagendados para o ano 2021”.

Mas, nem tudo são más notícias. Ao que tudo indica, os próximos anos, podem trazer trabalho redobrado. “Temos já datas confirmadas para 2021 e 2022 e reagendamentos para 2021. Adivinha-se que 2021, se tudo correr pelo melhor, será um ano de casamentos, uma vez que teremos os casamentos de 2020 e 2021”, refere Helena Oliveira. Em todo o caso, esta expectativa positiva não retira os prejuízos que toda esta situação está a causar e que, para a gerente da Marilene Noivas “são muito avultados, uma vez que ainda não tínhamos todas as vendas feitas para o ano 2020 e a procura para 2021 já se fazia sentir e estamos fechados desde o dia 16 de março”.

Quanto à forma como esta área de atividade se poderá adaptar no futuro e às estratégias e mudanças de comportamento a adotar em função das medidas que venham a ser anunciadas para o retorno à “vida normal” Helena Oliveira não tem dúvidas que, de momento, passarão por ser adotadas todas as medidas de segurança recomendadas pela Direção-Geral de Saúde. Em todo o caso, considera que “voltar á rotina vai ser um processo muito lento e difícil”.