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Emergência no comércio local

Manuel António Silva
Sociedade \ sexta-feira, maio 01, 2020
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O Estado de Emergência em que o país foi colocado em virtude da pandemia provocada pelo novo coronavírus, trouxe consigo um sem número de problemas, também ao pequeno comércio local.

Já antes da declaração do referido Estado de Emergência, o isolamento profilático a que a população foi aconselhada, havia retirado grande movimento às ruas com a generalidade das pessoas a recolher aos seus domicílios e aí permanecer. Uma situação imprevisível e que apanhou todos de surpresa, como também é imprevisível o tempo que a tudo demorará a voltar à normalidade. Todo o mundo está em sobressalto e expectante em relação ao futuro. No sentido de tentar conhecer as implicações que esta situação trouxe ao comércio local, fizemos uma ronda por estabelecimentos de diferentes ramos de atividade e o cenário é de grande incerteza e até medo, pelos dias que se seguirão a esta pandemia. Ainda há quem consiga, por força do tipo de atividade que prestam, manter-se em atividade, mas, a baixa no negócio é notória. Há negócios completamente parados.

1 – De que forma esta situação da COVOD-19 está a afetar o seu negócio?
2 – Que medidas tomaram para minimizar as formas de propagação do vírus?
3 – Continuam a trabalhar? Se sim, de forma normal ou com limitações (e quais?)?
4 – Verificam quebra no negócio? Conseguem adiantar os prejuízos que eventualmente possa estar a ter com esta situação?
5 – Algum comentário que queiram fazer sobre o assunto e que não esteja implícito nas questões acima?

Orlando Freitas – Gerente da Dom José Pastelarias (padaria e pastelaria)

1 e 3 - Esta situação da Covid-19 acabou por levar ao encerramento da nossa atividade por tempo indeterminado. Neste ramo de atividade, até poderíamos estar abertos mas, dado o pânico que toda a população vive, acabamos por decidir encerrar e aproveitar para higienizar o nosso espaço.
2- Inicialmente adotamos as medidas recomendadas pela D.G.S. mas notamos logo uma quebra de 60% pois, as pessoas, começaram a evitar espaços fechados, com aglomerado de gente.
4- Os prejuízos acumulam-se todos os dias com a porta fechada. Tínhamos serviços de catering agendados com empresas até Junho, que também foram desmarcados. Acabamos, assim, neste momento, por só acumular prejuízo todos os dias e a única coisa que temos como certo são os custos fixos para pagar inerentes à nossa atividade. Com a incerteza de não sabermos até quando os vamos conseguir pagar.
5- Após analisar todas as medidas de apoio à nossa atividade chegamos á conclusão (nós e todos os players do mesmo ramo) que são uma mão cheia de nada. Vemos um Layoff simplificado sem coerência pois, só o podemos usar como comprovativo de quebra dos últimos dois meses mas o negócio só começou a cair há dua semanas. Ou seja, só a partir de Maio é que poderemos usar o Layoff simplificado e até lá temos que continuar a pagar salários e segurança social, como se estivéssemos a trabalhar. Os empréstimos que nos oferecem são ridículos e vergonhosos. Quererem lucrar com isto. Compram a taxa negativa e estão a querer vender a 2 e 3%?!

Rafael Silva – Gerente da CaotinhoDosAnimais (animais de companhia e respetivos alimentos)

1- Sim afetou o negócio.
2- As medidas tomadas são: circulação pela loja (entrada por um lado e saída por outro, sem que os clientes se cruzem); colocamos uma proteção de acrílico no balcão de atendimento (proteção de colaborador e cliente ) colocação de álcool/gel e luvas à entrada do estabelecimento para o cliente poder calçar e desinfetar as mão à entrada e saída. Reforçamos as entregas gratuitas ao domicílio.
3 – Sim. Continuamos abertos com o nosso horário mais reduzido. De segunda a sexta das 9h às 12h30 e das 14h30 às18h30 e ao sábado das 9h às13h. Só podem estar duas pessoas em simultâneo na loja, com a distância recomendada pela DGS
4- Houve quebras, mas não conseguimos, de momento, apresentar valores exatos.

João Macedo – Sócio-gerente do Restaurante Príncipe Parque

1 – O covid-19 levou ao encerramento do nosso estabelecimento, desde o dia 16 de Marco.
2 – Numa fase inicial tomamos as medidas impostas pelo Governo que passava pela diminuição de 1/3 dos lugares, mantendo um certo distanciamento das mesas e também colocando no nosso espaço gel desinfetante. Procedemos também à desinfeção das superfícies, por várias vezes.
3 – Neste momento temos o restaurante fechado. Porem vamos começar a trabalhar em serviço de take away, somente ao fim de semana, respeitando as normas impostas.
4 – Na semana em que surgiram os primeiros infetados notou-se uma quebra e logo a seguir, no fim de semana de 13/14/15 Março, registamos uma quebra de 90%, levando ao encerramento, por nossa iniciativa. Uma semana depois, por imposição das medidas de emergência tomadas pelo Governo, essa situação passou a ser obrigatória.
5 – Estamos a viver uma fase da nossa vida, impensável. As notícias que nos chegam de outros países faz com que tenhamos de ser rigorosos na prevenção. Temos de ter fé, esperança e acreditar naqueles que nos estão a comandar.

Maria da Luz Duarte – Sapataria Júlio Duarte

1- O calçado, tal como o vestuário não é um bem essencial. Por isso, não estamos a trabalhar, porque a loja tem que permanecer fechada perante o estado de Emergência em que está o país.
2- Foi tudo tão rápido, que as medidas tomadas, foi o distanciamento aconselhado (na altura), álcool disponível para quem pretendesse desinfetar as mãos, e ao fim de 3 dias nestas condições, encerramos. Os clientes não existiam. As regras diziam para não sairmos de casa.
3- Não estamos a trabalhar porque não podemos. A única coisa que fazemos, é facilitar os nossos contatos para atendermos pontualmente, por marcação, um cliente mesmo necessitado de alguma coisa. Sempre com a máxima prevenção.
4- Claro que a quebra de negócio vai ser enorme. As encomendas foram entregues, várias encomendas ainda para chegar (que já não podemos cancelar). Isto é uma roda. Se nós mandarmos para trás, o fornecedor também teria que mandar para trás e, claro que ninguém quer ficar com esse problema. Vai ser muito difícil e cada vez com mais certezas de que não vai ser fácil continuar. As ajudas para o pequeno comerciante não são quase nenhumas. O comércio tradicional está muito consciente da grande crise que aí vem e claro, para sobrevivermos a esta crise, de modo a não acabarmos, precisaremos da nossa gente, dos taipenses e das freguesias vizinhas de modo a conseguirmos, todos juntos, que o nosso comércio não acabe.

Hilário Gomes – Gerente da Doce Rosinha (Panificação, Feiras, Cafetaria e Salão de Chá)

1 - A COVID-19 veio, em primeiro lugar, acabar com qualquer capacidade que um gestor tenha de planear a mais que um dia. Ou seja, não há planeamento, mas, apenas ação e, sobretudo, reação. Isto somado à perda de mais de 50% do volume de negócios em que maior parte dos custos são fixos, leva a um estrangulamento da tesouraria pondo em causa as responsabilidades da empresa.
2 – Tivemos de fechar duas lojas mais viradas para o turismo e encerrar a loja das Taipas, da parte de tarde, reduzindo assim, ao máximo, o número de trabalhadores por dia para termo a capacidade de substituição de quem possa estar doente. Terminámos com qualquer serviço à mesas e estamos apenas a vender o que produzimos para o dia-a-dia das pessoas.
3 - Há um conjunto enorme de limitações sendo que, num futuro próximo, não será possível saber quem conseguirá subsistir. Primeiro teremos, como sociedade, de resolver a questão da saúde. Pelo menos mitigar ao máximo efeitos desta situação.
4 - A perca será na ordem de 50% das vendas. Prejuízo, só no fim se saberá. Após saber se vão existir ajudas estatais. Uma coisa é certa, esta crise será o dito Cisne Negro da economia mundial. Algo que ninguém conseguiria prever nesta magnitude e, como tal, também ninguém sabe como se sairá?! Com esta incerteza, o risco da continuidade de todo o tecido empresarial aumenta para valores nunca imaginado.
5- Acho que neste momento negro terão que sair novas formas de pensar a sociedade e a sua forma de estar em grupo. Exemplo disso será o teletrabalho, o comércio online e o ensino à distância. É impensável alguém compreender o que será a sociedade que sairá desta situação, mas acho que o distanciamento social veio para ficar. Por isso, poderá haver neste verão muito menos negócios ligados ao turismo. Veremos muitos estabelecimentos que não vão voltar a abrir.