Emergência no comércio local
Já antes da declaração do referido Estado de Emergência, o isolamento profilático a que a população foi aconselhada, havia retirado grande movimento às ruas com a generalidade das pessoas a recolher aos seus domicílios e aí permanecer. Uma situação imprevisível e que apanhou todos de surpresa, como também é imprevisível o tempo que a tudo demorará a voltar à normalidade. Todo o mundo está em sobressalto e expectante em relação ao futuro. No sentido de tentar conhecer as implicações que esta situação trouxe ao comércio local, fizemos uma ronda por estabelecimentos de diferentes ramos de atividade e o cenário é de grande incerteza e até medo, pelos dias que se seguirão a esta pandemia. Ainda há quem consiga, por força do tipo de atividade que prestam, manter-se em atividade, mas, a baixa no negócio é notória. Há negócios completamente parados.
1 – De que forma esta situação da COVOD-19 está a afetar o seu negócio?
2 – Que medidas tomaram para minimizar as formas de propagação do vírus?
3 – Continuam a trabalhar? Se sim, de forma normal ou com limitações (e quais?)?
4 – Verificam quebra no negócio? Conseguem adiantar os prejuízos que eventualmente possa estar a ter com esta situação?
5 – Algum comentário que queiram fazer sobre o assunto e que não esteja implícito nas questões acima?
Orlando Freitas – Gerente da Dom José Pastelarias (padaria e pastelaria)
1 e 3 - Esta situação da Covid-19 acabou por levar ao encerramento da nossa atividade por tempo indeterminado. Neste ramo de atividade, até poderíamos estar abertos mas, dado o pânico que toda a população vive, acabamos por decidir encerrar e aproveitar para higienizar o nosso espaço.
2- Inicialmente adotamos as medidas recomendadas pela D.G.S. mas notamos logo uma quebra de 60% pois, as pessoas, começaram a evitar espaços fechados, com aglomerado de gente.
4- Os prejuízos acumulam-se todos os dias com a porta fechada. Tínhamos serviços de catering agendados com empresas até Junho, que também foram desmarcados. Acabamos, assim, neste momento, por só acumular prejuízo todos os dias e a única coisa que temos como certo são os custos fixos para pagar inerentes à nossa atividade. Com a incerteza de não sabermos até quando os vamos conseguir pagar.
5- Após analisar todas as medidas de apoio à nossa atividade chegamos á conclusão (nós e todos os players do mesmo ramo) que são uma mão cheia de nada. Vemos um Layoff simplificado sem coerência pois, só o podemos usar como comprovativo de quebra dos últimos dois meses mas o negócio só começou a cair há dua semanas. Ou seja, só a partir de Maio é que poderemos usar o Layoff simplificado e até lá temos que continuar a pagar salários e segurança social, como se estivéssemos a trabalhar. Os empréstimos que nos oferecem são ridículos e vergonhosos. Quererem lucrar com isto. Compram a taxa negativa e estão a querer vender a 2 e 3%?!
Rafael Silva – Gerente da CaotinhoDosAnimais (animais de companhia e respetivos alimentos)
1- Sim afetou o negócio.
2- As medidas tomadas são: circulação pela loja (entrada por um lado e saída por outro, sem que os clientes se cruzem); colocamos uma proteção de acrílico no balcão de atendimento (proteção de colaborador e cliente ) colocação de álcool/gel e luvas à entrada do estabelecimento para o cliente poder calçar e desinfetar as mão à entrada e saída. Reforçamos as entregas gratuitas ao domicílio.
3 – Sim. Continuamos abertos com o nosso horário mais reduzido. De segunda a sexta das 9h às 12h30 e das 14h30 às18h30 e ao sábado das 9h às13h. Só podem estar duas pessoas em simultâneo na loja, com a distância recomendada pela DGS
4- Houve quebras, mas não conseguimos, de momento, apresentar valores exatos.
João Macedo – Sócio-gerente do Restaurante Príncipe Parque
1 – O covid-19 levou ao encerramento do nosso estabelecimento, desde o dia 16 de Marco.
2 – Numa fase inicial tomamos as medidas impostas pelo Governo que passava pela diminuição de 1/3 dos lugares, mantendo um certo distanciamento das mesas e também colocando no nosso espaço gel desinfetante. Procedemos também à desinfeção das superfícies, por várias vezes.
3 – Neste momento temos o restaurante fechado. Porem vamos começar a trabalhar em serviço de take away, somente ao fim de semana, respeitando as normas impostas.
4 – Na semana em que surgiram os primeiros infetados notou-se uma quebra e logo a seguir, no fim de semana de 13/14/15 Março, registamos uma quebra de 90%, levando ao encerramento, por nossa iniciativa. Uma semana depois, por imposição das medidas de emergência tomadas pelo Governo, essa situação passou a ser obrigatória.
5 – Estamos a viver uma fase da nossa vida, impensável. As notícias que nos chegam de outros países faz com que tenhamos de ser rigorosos na prevenção. Temos de ter fé, esperança e acreditar naqueles que nos estão a comandar.
Maria da Luz Duarte – Sapataria Júlio Duarte
1- O calçado, tal como o vestuário não é um bem essencial. Por isso, não estamos a trabalhar, porque a loja tem que permanecer fechada perante o estado de Emergência em que está o país.
2- Foi tudo tão rápido, que as medidas tomadas, foi o distanciamento aconselhado (na altura), álcool disponível para quem pretendesse desinfetar as mãos, e ao fim de 3 dias nestas condições, encerramos. Os clientes não existiam. As regras diziam para não sairmos de casa.
3- Não estamos a trabalhar porque não podemos. A única coisa que fazemos, é facilitar os nossos contatos para atendermos pontualmente, por marcação, um cliente mesmo necessitado de alguma coisa. Sempre com a máxima prevenção.
4- Claro que a quebra de negócio vai ser enorme. As encomendas foram entregues, várias encomendas ainda para chegar (que já não podemos cancelar). Isto é uma roda. Se nós mandarmos para trás, o fornecedor também teria que mandar para trás e, claro que ninguém quer ficar com esse problema. Vai ser muito difícil e cada vez com mais certezas de que não vai ser fácil continuar. As ajudas para o pequeno comerciante não são quase nenhumas. O comércio tradicional está muito consciente da grande crise que aí vem e claro, para sobrevivermos a esta crise, de modo a não acabarmos, precisaremos da nossa gente, dos taipenses e das freguesias vizinhas de modo a conseguirmos, todos juntos, que o nosso comércio não acabe.
Hilário Gomes – Gerente da Doce Rosinha (Panificação, Feiras, Cafetaria e Salão de Chá)
1 - A COVID-19 veio, em primeiro lugar, acabar com qualquer capacidade que um gestor tenha de planear a mais que um dia. Ou seja, não há planeamento, mas, apenas ação e, sobretudo, reação. Isto somado à perda de mais de 50% do volume de negócios em que maior parte dos custos são fixos, leva a um estrangulamento da tesouraria pondo em causa as responsabilidades da empresa.
2 – Tivemos de fechar duas lojas mais viradas para o turismo e encerrar a loja das Taipas, da parte de tarde, reduzindo assim, ao máximo, o número de trabalhadores por dia para termo a capacidade de substituição de quem possa estar doente. Terminámos com qualquer serviço à mesas e estamos apenas a vender o que produzimos para o dia-a-dia das pessoas.
3 - Há um conjunto enorme de limitações sendo que, num futuro próximo, não será possível saber quem conseguirá subsistir. Primeiro teremos, como sociedade, de resolver a questão da saúde. Pelo menos mitigar ao máximo efeitos desta situação.
4 - A perca será na ordem de 50% das vendas. Prejuízo, só no fim se saberá. Após saber se vão existir ajudas estatais. Uma coisa é certa, esta crise será o dito Cisne Negro da economia mundial. Algo que ninguém conseguiria prever nesta magnitude e, como tal, também ninguém sabe como se sairá?! Com esta incerteza, o risco da continuidade de todo o tecido empresarial aumenta para valores nunca imaginado.
5- Acho que neste momento negro terão que sair novas formas de pensar a sociedade e a sua forma de estar em grupo. Exemplo disso será o teletrabalho, o comércio online e o ensino à distância. É impensável alguém compreender o que será a sociedade que sairá desta situação, mas acho que o distanciamento social veio para ficar. Por isso, poderá haver neste verão muito menos negócios ligados ao turismo. Veremos muitos estabelecimentos que não vão voltar a abrir.