25 abril 2024 \ Caldas das Taipas
tempo
18 ºC
pesquisa

Uma questão de palavras – parte 1

Amadeu Faria
Opinião \ quinta-feira, novembro 10, 2022
© Direitos reservados
Ao aproximarmo-nos de um final de 2022 orwelliano e esperando que o 2023 não seja kafkiano, há sempre a tendência de fazer uma breve retrospetiva do que mais marcou o ano que se prepara para terminar

E se há ponto essencial para percebermos o que se passou é o de vermos as palavras e o que elas para nós significam. Logicamente as interpretações são sempre pessoais e individuais, ancoradas em ideias, sensações e lógicas muito próprias de cada um (garanto que Ucrânia não deve significar a mesma coisa para todos tal como Rússia é entendida de forma diversa por todos). Não passa de um simples exercício pessoal e individual e completamente anárquico em termos de abecedário (é o que me apetece). Vamos então a ele:

Autonomia - tão celebrada para as escolas e para a educação. Afinal vai se a ver e “a montanha pariu um rato”. Já sei que os “paradigmáticos” (ver possível definição), me dirão que a última manobra do nosso ilustre ministro de deixar parte do corpo docente para contratação direta pelos diretores, é um exemplo de autonomia. Para mim poderá vir a ser, sem garantias de qualquer espécie, mais um exemplo de possível compadrio, nepotismo e de voltarmos ao célebre tempo da discricionariedade de distribuição de horários/serviço.  Ou já se esqueceram? A autonomia nas escolas é uma falácia bem embrulhada. Vejam os modelos de formação de docentes (vindos diretamente made in ME e dos seus paradigmáticos), as imposições às escolas de modelos avaliativos sem qualquer avaliação, ou até a tentativa de imposição de modelos de organização da própria escola, sem as mesmas avaliações. Aliás se alguém conhecer algum programa do ME lançado nas escolas ( desde 2008) e que tenha tido uma avaliação devidamente publicitada, diga-me;

Escola/Educação/Ensino- opção lógica sendo conceitos distintos (mas que abarcam uma parte significativa da vida de todos e da minha em particular). Não me vou alongar muito sobre isto; prefiro remeter a tudo quanto tenho escrito e dito. A questão da educação tem sido tratada com os “pés” por sucessivos governos desde 2005, questionando-se as “certezas” e novos “paradigmas” que se pretendem aplicar, implodindo a escola da Lei de Bases. O problema e que nenhuma revolução é bem-sucedida quando é feita contra e à revelia de quem a aplica; segundo uma revolução faz-se alterando o que possa ser melhorado, avaliando-se os resultados e muito na educação pode sê-lo…, mas não no caminho que gostosamente se está a percorrer. Talvez possamos ter um pequeno sinal de esperança com a adesão à última greve de docentes. A ver vamos;

Marcelo: o nosso presidente, que cada vez mais se assemelha a um comentador e “patusco” da situação (reveja-se a última exuberância na “Web Summit”, ou se preferirem as declarações feitas para a ministra da coesão… que por acaso não lida com esse dossier). Marcelo no seu….

Paradigma- aprendi na UM o significado e o entendimento de paradigma. Considerei-o na altura como algo que serviria de padrão, de modelo. Hoje já não tenho tanta certeza. Penso que se confunde paradigma com moda, com “paixão de verão”, com “palpitações momentâneas”. Não concordam? Vão ver o que se passa nas escolas e na educação e pode ser que se apercebam de muitos dos novos… paradigmas;

Maia-ver “paradigma”, não confundindo nunca com a amiga do “Willie”;


Ubuntu – ver “paradigma” e reforçar a leitura sorrindo (ser positivo);

Ucrânia – só me apetece o que sempre afirmei “Slava Ukraini”, como afirmei; mas também “tahya filastin”, sem rebuços e principalmente contra tudo o que me cheire a espezinhamento da autodeterminação dos povos e direitos humanos;

Maioria- desejada por tantos do meu partido, entregue por tantos dos partidos da “geringonça” e pela incapacidade da direita democrática de se apresentar como alternativa (ainda hoje). Um misto de sensações já que por um lado sempre temi as maiorias e o unanimismo (seja onde for). Parece-me que as maiorias transportam com elas o vírus do egocentrismo, do autismo político, conduzindo o próprio partido maioritário a um clima de profunda perda de identidade política. Temi as maiorias de Cavaco Silva, tal como temi as de Sócrates (e recordo-me tão bem de quem eram os grandes defensores de Sócrates incluindo na Federação a que pertenço);

Brasil - Um “caso studis”. Terra da oportunidade desaproveitada; terra de confronto e de extremos; terra de democracia (felizmente vencedora), mas que espero e desejo, cuidada por quem de direito… sem direito a “sermões” ou a pedidos de intervenção do exército para repor o que se quer (bonito princípio democrático-é democracia para o que eu quero);

Rússia – sempre me habituei a ver a Rússia (e não a URSS), como um enorme país, grandioso em tudo (história, povo, cultura e o que mais queiram). Hoje continuo com a mesma ideia… só que governada por um déspota, um tiranete, um ser que de grandioso, nada têm. Os paradigmáticos de cátedra, escusam de me vir recordar outros que tais, do chamado bloco ocidental porque, como alguém disse um dia, se vão por aí “não passa de conversa da treta”;

(a continuar)