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O gato e a campanha… ou uma campanha tudo menos alegre

Amadeu Faria
Opinião \ quinta-feira, fevereiro 03, 2022
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Podemos sem duvida questionar o porquê de nunca ter sido pensada uma alteração da nossa lei eleitoral; não ter sido feito uma real limpeza dos quadros eleitorais.

Assumo-me claramente como um “saudosista” …. dos tempos em que votar era uma festa, uma alegria, um dever antes de ser um direito. Fazendo uma breve retrospetiva sobre os níveis de abstenção para eleições legislativas, passamos paulatinamente de uma taxa de 8,5% nas eleições de 1975 (cumprindo a promessa feita do MFA), para uma taxa de abstenção de 51.4% em 2019.

Por isso questiono-me desde há muito, sobre não o significado desta anormalidade do sistema, mas também o porquê de chegarmos aqui nesta situação. Os mais imediatos a pensar e dizer, com toda a certeza, culparão os “outros”: partidos políticos, juventudes partidárias, os célebres quadros e as nomenclaturas partidárias. Estou em crer que sendo parte do problema, porque não os vejo a querer ser solução, não são o problema no seu todo. Podemos sem duvida questionar o porquê de nunca ter sido pensada uma alteração da nossa lei eleitoral; não ter sido feito uma real limpeza dos quadros eleitorais; não se ter pensado numa solução que esteja entre os círculos uninominais e um quadro de eleição nacional; não se ter pensado na possibilidade de se tornar o voto obrigatório; não se ter pensado na simples possibilidade de universalização do voto eletrónico numa sociedade cada vez mais digital; ou do alargamento da idade de voto ( porque não os 16 anos)? Algumas destas ideias podem servir de base para o ataque consistente ao problema da abstenção

A questão da abstenção, central num estado democrático, não pode ser dirimida enquanto culpados e inocentes; todos, mas mesmo todos, tem a sua quota parte de responsabilidades na situação. Se não correr bem é sempre simples assacar a culpa aos do costume. Mesmo num contexto difícil como o nacional, a própria questão da marcação destas eleições é motivo de algum questionamento; a data 30 de janeiro foi devidamente ponderada? Foi articulada com os dados presentes na altura da marcação, sobre os efeitos da pandemia? Ou será que só existiu aqui por parte de quem as marcou, um acertar de calendário politico. O seguidismo de agendas próprias pode redundar num aumento da abstenção. “Não fazer da abstenção a rainha da noite” (palavras da líder do PAN), pareceu-me uma ideia muito correta, mas pouco traduzida em medidas concretas.

Escrevo este pequeno texto, horas antes de sabermos os resultados destas eleições que pelos vistos ninguéns queria, mas todos desejavam. Aguardo expectante os resultados a começar pelos da abstenção. Temo que sejam elevados, esperando que não. Uma campanha que é feita de acordo com sondagens (desde há muito), em que a confusão que se instala (e seria interessante ver quem beneficie desta situação), sobre explanação das ideias e propostas várias; uma campanha que se baseou em debates folclóricos de sound bites, muito ao gosto de uma imprensa imediatista e das cliques e claques partidários – os fieis entre os fieis, sem discussão clara das opções. Estas eleições foram sobre a governabilidade… SNS, Educação, União Europeia, as questões da inflação, da utilização dos dinheiros europeus, das ameaças ambientais, quase tudo ficou na gaveta. Mais importante foi a questão do gato na campanha… ou do circuito da carne assada… em suma uma campanha alegre!