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Uma carta a García… que nunca lá chegará (parte 1)

Amadeu Faria
Opinião \ quinta-feira, maio 26, 2022
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Os professores deste país continuam a não merecer a nomeação de um ministro que fale de forma clara, sem subterfúgios, sem esquecer as suas responsabilidades de membro do ME durante vários anos

Por uma questão de organização, tinha a passada sexta-feira para escrever esta minha crónica. Nessa mesma sexta, li a entrevista dada ao Expresso pelo novo ministro de educação João Costa. Achei por bem parar, pensar e refletir, pois o espanto que senti pela entrevista, poderia levar-me a ser… um pouco mais duro do que o costume. Neste domingo e após mais uma vitória das minhas cores, sentei-me a escrever este texto.


Chego a conclusão de que os professores deste país continuam a não merecer a nomeação de um ministro que fale de forma clara, sem subterfúgios, sem esquecer as suas responsabilidades de membro do ME durante vários anos e de “alma mater” de todo um conjunto legislativo que traria as escolas para o século XXI.


Diz o senhor ministro que a propósito da falta de professores e da tardia resposta do ME ao problema, que “… eu já estava na equipa anterior, mas tivemos de fazer um recenseamento…”. Senhor ministro! Esquece-se que assumiu (2018) que havia um sério problema de envelhecimento do corpo docente? O que fez então? Não alegue agora desconhecimento.


Continuando na sua entrevista reparo que não considera normal que um ministro que tutela todo um conjunto de profissionais, se preocupe com questões de justiça em colocações e atribuição de horários. Pelo contrário, afirma vossa excelência que “não vamos ficar presos a uma lista (que ordena todos os docentes pela graduação profissional), feita há não sei há quanto tempo…Não sabe como as listas são produzidas e quando? Desconfia da sua plataforma, dos SAE que fazem as listas, dos diretores que as validam, ou são desconfianças provocadas pelo clima? Mas o melhor vem a seguir. Dizer-se que “hoje há uma serie de problemas sociais e os professores não foram formados para lidar com essa diversidade, o que gera frustração. Foram formados para serem professores de bons alunos.”, raia a desinformação para ser educado. Aqui senhor ministro (e com todo o respeito que devo a uma figura do Estado), digo-lhe com toda a sinceridade e com uma experiência de 32 anos de serviço (tal como a maior parte dos meus colegas), que o senhor deve andar mal informado, ou desconhecer a realidade ou então, mistificar a própria realidade. Temos e bem, nos últimos 20 anos, sido resilientes, dinâmicos e proativos no sentido de resolvermos todos os problemas e necessidades sociais, que chegam às escolas em virtude uma destruturação de anteriores apoios sociais e, inclusive, da destruturação de muitas famílias. Adaptamos tudo… incluindo durante a pandemia, criamos o ensino @distância (ainda o ministério andava a ver o que ia fazer e já as escolas estavam a organizar-se para apoiar os seus alunos incluindo aqueles mais permeáveis em termos socioeconómicos). Há não tanto tempo quanto isso, elogiou a capacidade dos professores portugueses de não abandonarem nenhum aluno e de tudo fazerem para que estes tivessem o sucesso escolar e pessoal que se pretende (sessão de apresentação de um dos seus muitos projetos em escola do concelho). O senhor desconhece o tipo de alunos que tenho, que temos e quais as situações com que somos confrontados diariamente. A sua frase é para mim, no mínimo, insultuosa ao estilo “ministra da má memória”.

Voltarei à sua entrevista noutras ocasiões pois há muito que comentar e contraditar. Para já aconselhava se tal me é permitido, a que atentasse numa situação.  

A falta de professores (porque parece ser o maior problema desde há mais de 10 anos), só se resolve se a carreira for atrativa; e essa atratividade só pode ser realizada com a valorização da mesma, a começar pela valorização feita pela tutela dos seus profissionais e pela valorização salarial.

Tudo o resto será para como dizia uma sua antecessora “… ganhar a opinião pública” … acrescento, se as crianças e jovens não estiverem em casa!