Um mesmo 25 em 48 anos!
Passam 48 anos sobre a Revolução dos Cravos. E porque de uma revolução se tratou, pese acrimónia de alguns, interessa recordar alguns pontos. O que era Portugal antes de abril de 1974? Um país com uma taxa de mortalidade infantil de 55.5%; com uma esperança de vida à nascença de 67.1 (em 1970); com uma percentagem de analfabetismo de 25,7% (em 1970) e em que somente 0,9% dos jovens, acediam ao ensino superior (todos os dados que apresento estão na Pordata… é só confirmarem).
Esta vontade de factualizar um conjunto de observações sobre a Revolução dos Cravos prende-se com algumas considerações que são feitas, nestes tempos. A democracia dá-nos o direito de expressarmos a nossa opinião (nunca considerando que ela é a verdade absoluta), mas conviria conhecermos antes de falarmos sob pena de apostarmos na demagogia e populismos serôdios. Kundera dizia que “A luta do Homem contra o poder é a luta do mesmo contra o esquecimento”. Razão tinha ele!
Quando os militares do MFA avançaram para a operação fim de regime, viram um país decrépito, velho como o mais velho dos velhos do Restelo, ostracizado pela esmagadora maioria da comunidade internacional (um pária para a ONU), que via por questões de sobrevivência, fome e de perseguição política, muitos dos seus melhores fugiram para outros países. Quantas das nossas famílias não foram fustigadas pela emigração dos anos 60 e 70? Quantas das nossas famílias não viram entes queridos serem levados para uma guerra para a qual não contribuíram e que, no entanto, tudo fizeram sem nada lhes ser dado? É este Portugal que alguns anseiam? É este Portugal que faz parte do imaginário de alguns? É este Portugal, o glorioso Portugal? Lamento. Para mim Portugal é um todo na sua história: com momentos positivos e outros negativos. Se tivermos sempre um espaço para conhecer, educar e informar, seremos sempre um país melhor. Mais ciente dos seus direitos, mas também ativo no cumprimento dos seus deveres para com todos. E quando me refiro a todos, acreditem que falo de todos! A começar numa classe política que legitimamente elegemos, que legitimamente nos representa, que quero sempre acreditar que faz o melhor que sabe, mas que vejo a confundir política com uma carreira; que vejo a confundir agenda política com agenda partidária (e aqui não há ninguém que se possa excluir deste sentido – até as franjas mais radicais o fazem).
E assim e com muito orgulho sou um filho de abril (nascido dez anos antes)! Reconheço-me nos 3 D’S! Reconheço-me no esforço feito pelos capitães e por aqueles que denomino de senadores da democracia, esperando poder contribuir, um pouco que seja, pelo Portugal democrático.
Deixo para o final 2 breves notas: a primeira para o nosso PR. Falar em comemorações do 25 do novembro, revela um desconhecimento sobre quem o fez e o que se pretendia. Verifique por favor, o que foi e quem pertenceu ao “grupo dos 9”; quem liderou o 25 de novembro? Sempre a favor de comemorações que coloquem a liberdade e a democracia em primeiro, mas devidamente contextualizados e não brincando aos “Jaiminho” das Chaimites.
A segunda nota vai para o Núcleo de Estudos 25 de abril. É o primeiro ano desde 2009 que este grupo cívico não apresenta uma agenda de comemorações. Razões várias e bastas estiveram na origem da decisão. Criou-me alguma sensação de vazio… rapidamente estilhaçada pela quantidade e qualidade das iniciativas que se foram fazendo um pouco por este Portugal (com maior ou menor apoio, com maior ou menor espírito inventivo e criador) “à beira-mar plantado”, mas que já não está “orgulhosamente só”.