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Sonho numa noite de março… ou “ habemus ministros”

Amadeu Faria
Opinião \ quinta-feira, março 31, 2022
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Recordar que o povo é sábio e soberano e por tal espanta-me que quem perde eleições, despreze e menorize os resultados das eleições de janeiro com a velha expressão: "O povo foi enganado"

Após uma pausa maior provocada pela vergonha da anulação do voto dos emigrantes, surgiu pelas mãos da comunicação social (nada de novo), a lista dos novos ministros integrantes do novo governo surgido das eleições de janeiro.


É claramente na minha opinião, um governo mais virado para o partido socialista e menos para a sociedade civil. Não vejo aí problema… interessa-me é gente empenhada e competente, não esquecendo que este é um dos resultados de uma vitória traduzida numa maioria absoluta. Em segundo lugar, a vitória incontestável de António Costa no desenho deste governo; colocar os putativos herdeiros todos juntos no mesmo espaço, é uma jogada de mestre (e se falam desde sempre em candidatos a sucessão de António Costa no PS, apraz-me recordar que ainda não apareceu nenhum para o principal partido da oposição – sintomático não?). Em terceiro lugar, as confirmações de Duarte Cordeiro (é para mim o grande responsável da vitória do PS), Mariana Vieira da Silva e de Marta Temido (após um heroico e pouco valorizado combate). Em quarto lugar, a escolha anunciada de João Costa para assumir, oficialmente, a pasta da Educação. Após muitas escaldadelas quanto a opções para o ME (e é preciso conhecer o programa do PS sobre a matéria, algo que muitos dos que apoiam esta escolha possivelmente desconhecem), gostava que o novo ministro (e desde sempre responsável máximo pelas opções estruturais tomadas no sistema educativo, já que o seu antecessor se limitava, quando dava jeito, a ser tão somente do Desporto), pudesse ter em conta os seguintes pontos:


- Dedicar uma atenção cada vez maior a uma escola que prepare para a vida, a todos os níveis, e não a uma transformação da escola em centro lúdico onde também se poderá aprender; lamento, mas não acredito em aprendizagens sem esforço, sem rigor e sem aferição clara da qualidade das mesmas; não creio que o empenho, o esforço, a dedicação no processo de ensino-aprendizagem por parte dos discentes, não tenha de ser uma componente máxima da escola; e continuo a acreditar que estas ideias que aqui expresso, são criadas a maior parte das vezes, não por quem imagina o edifício/Lei, mas por quem gosta de ser sempre “ponta de lança” de qualquer coisa e até do seu oposto;
- Praticar e desenvolver uma autonomia séria das escolas e nestas promover o principio de escolhas democráticas e responsáveis a nível das ações educativas/administrativas; a autonomia existente é a das plataformas informáticas, é a das indicações/ordens/escolhas da tutela e das elites, é a dos projetos a todo o custo e a todo o vapor;
- Aposta séria na “ressignificação” do papel do professor, devolvendo-lhe socialmente e profissionalmente o que lhe foi retirado através de um processo de amesquinhamento, de proletarização e de menosprezo (processo iniciado por Maria de Lurdes Rodrigues e continuado por Nuno Crato);
- Por ultimo, apostar na formação inicial de professores (não com os modelos existentes que voltarei um dia destes a falar), atraindo com condições exequíveis, mas também reais, para esta nobre profissão.


Para o final duas breves notas: recordar que o povo é sábio e soberano e por tal espanta-me que quem perde eleições, despreze e menorize os resultados das eleições de janeiro com a velha expressão” O povo foi enganado” (apetece perguntar se quando foram eleitos até para cargos de proximidade com o povo, consideraram o mesmo?);


A 24 de março, com 17501 dias de democracia em Portugal, dia em que escrevo este texto, só me apetece dizer 
"Slava Ukraini"- Heroiam slava!"