Quando as coisas perdem o tempo…
O Teatro Jordão foi inaugurado em 20 de Novembro de 1938.
A sua inauguração, sendo desejada e aclamada por muitos, viria a provocar um efeito colateral negativo para todos os envolvidos na defesa do então Teatro D. Afonso Henriques, situado no Campo da Feira, em que sucessivas comissões de cidadãos vimaranenses tentaram evitar e retardar durante anos a sua destruição. Este Teatro há muito vinha reclamando obras de restauro e conservação nunca concretizadas. O tempo do Teatro D. Afonso Henriques passou a ser do Teatro Jordão, porque passou a ouvir-se um outro argumento: porque lutar pela defesa deste Teatro, quando temos agora um teatro mais moderno e mais bonito?
Estava dado o mote e o passo seguinte foi facilitado: demolição completa deste quarteirão, Teatro D. Afonso Henriques incluído, para permitir prolongar a Alameda até ao Campo da Feira. Foi o tempo de, para muitos, bem intencionados, arejar a cidade…
Mas não seria melhor para a nossa cidade, neste tempo, ter ainda o Teatro D. Afonso Henriques? Penso que sim, mas dificilmente se consegue ultrapassar o destino do seu tempo.
Passados 79 anos, chegou ao fim, tal como o conhecemos, o tempo do nosso Teatro Jordão. O seu novo programa e funcionalidade não permite, por manifesta falta de espaço, manter a integralidade da sua plateia, balcão e camarins. Da grande sala de espectáculos restará um auditório com capacidade para 400 espectadores, menos dois terços que o original que comportava 1200 espectadores.
O Teatro Jordão, ponderando a nova função e o programa que lhe atribuíram, perdeu o seu tempo.
O grande problema é que a responsabilidade que temos, nós todos, ao tentar fazer a gestão daquilo que num determinado tempo não está no tempo, é perceber se vale a pena conservar para outro tempo aquilo que neste momento o não tem.
Em tempos idos foi proposta por uma instituição vimaranense a demolição do Castelo de Guimarães. Porquê? Porque o Castelo naquele tempo já não tinha qualquer função e para alguns era até um entrave ao desenvolvimento, tal como as muralhas que após a sua importância defensiva só por necessidades estranhas à sua origem se mantiveram intactas. Das seis torres que circundavam a muralha ficou apenas a da Alfândega, todas as outras, consideradas, naquele tempo, obstáculos à circulação, foram demolidas. Para as torres e partes da muralha tinha acabado o seu tempo. Já não era tempo de muralhas nem de castelos e o conceito que hoje temos sobre o nosso património e a necessidade da sua preservação ainda não fazia parte desse tempo…
E que bem mais bonita seria Guimarães com o seu Centro Histórico rodeado pela muralha e as suas torres! Se alguém, naquele tempo, tivesse pensado que haveria de vir novamente um tempo para o tempo das muralhas…
O Teatro Jordão, tal como o conhecemos, infelizmente, vai deixar de existir. Ficarão as memórias da sua grandeza, em registo fotográfico e outros. Mas também fica para a memória o silêncio daqueles que supostamente deveriam dizer e fazer alguma coisa…