O Papel da Educação e da Cultura no desenvolvimento de Guimarães
O concelho de Guimarães inicia um novo ciclo político e é tempo de saudar os eleitos e de desejar-lhes um mandato profícuo, guiado pela escuta, pela cooperação e pelo compromisso com o bem comum. O programa eleitoral era rico em ideias e projetos para o concelho e agora o desafio será transformá-lo em políticas coerentes e integradas. Neste contexto, importa refletir sobre um eixo que pode definir o futuro do concelho: a integração entre a Educação e a Cultura.
O concelho dispõe hoje de um conjunto notável de entidades e programas municipais que expressam a vitalidade de Guimarães. A Oficina, apesar de ser uma estrutura de referência, continua excessivamente centralizada no centro urbano, com oferta limitada às escolas periféricas e fraca articulação com o ensino artístico local. Falta-lhe enraizamento territorial e continuidade pedagógica. A Tempo Livre cumpre o seu papel no domínio do desporto e da gestão de equipamentos, mas a sua ligação à dimensão educativa ou cultural é residual. O Laboratório da Paisagem, estrutura de base municipal dedicada à sustentabilidade e à educação ambiental, tem desenvolvido projetos relevantes como o programa PEGADAS, embora a sua ação permaneça concentrada na cidade e com pouca articulação com a dimensão artística e patrimonial do território. O programa IMPACTA, apesar de relevante no apoio ao associativismo, tem revelado morosidade, critérios pouco transparentes e reduzida orientação para a educação artística e por fim, o programa Mais Três, que surgiu com a promessa de reforçar a coesão educativa, não resolveu o problema crónico da falta de professores nas atividades de enriquecimento curricular, nem conseguiu estruturar uma política municipal de educação artística.
Estas fragilidades não anulam o trabalho feito, mas evidenciam uma lacuna estrutural, ou seja, a ausência de uma estratégia integrada que una os diferentes agentes e programas sob uma mesma visão educativa e cultural. O resultado é um concelho ativo, mas fragmentado; produtivo, mas sem continuidade; criativo, mas sem coerência sistémica.
Educação e Cultura sob a mesma visão
O futuro de Guimarães exige uma política integrada de Educação e Cultura, que valorize a escola como espaço de criação e a cultura como instrumento de aprendizagem. A criação de uma coordenação interdepartamental ou de um pelouro conjunto, que poderia garantir uma gestão mais integrada entre o Plano Educativo Municipal, o Plano Estratégico Municipal da Cultura 2032 e programas como o Mais Três e o IMPACTA. Mais do que uma reorganização administrativa, trata-se de um compromisso político com uma ideia de cidade que educa, cria e partilha.
Um Plano Municipal de Educação Artística
A consolidação desta visão poderia materializar-se através de um Plano Municipal de Educação Artística (PMEA). Este plano reuniria e estruturaria as práticas artísticas já existentes, garantindo a presença da música, do teatro, da dança e das artes visuais nos diferentes níveis de ensino. Deveria envolver escolas, conservatórios, academias de música e de dança, bandas filarmónicas e agentes culturais, criando um percurso de aprendizagem artística contínuo. O programa IMPACTA poderia incluir uma linha específica, nomeadamente o IMPACTA-Educa, dedicada ao apoio de projetos escolares e formação docente. O concelho de Guimarães tem condições para ser laboratório nacional de integração entre ensino artístico e políticas culturais locais.
Ensino superior e inovação educativa
Acredito que faria sentido que o Município de Guimarães, promovesse junto do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), instalado no AvePark, a criação de um curso superior em Educação Artística e Cultural, pois existem as condições certas para que tal aconteça: uma forte tradição educativa, um património cultural vivo e uma rede de escolas e associações que podem servir de campo de prática e investigação. Um programa académico com esta natureza reforçaria a ligação entre o ensino superior, o município e a rede educativa, consolidando a visão de uma cidade que valoriza o conhecimento, a arte e a inovação. A concretização desta iniciativa permitiria a Guimarães afirmar-se como referência nacional na formação artística e cultural, projetando o IPCA e o AvePark como motores de desenvolvimento educativo e criativo na região.
Laboratórios e redes de comunidade
O futuro da cultura e da educação depende também da proximidade e modelos como o Cultura em Rede devem continuar a expandir-se, garantindo que cada freguesia seja espaço de criação e aprendizagem. A criação de um Laboratório das Artes e da Música, inspirado no modelo do Laboratório da Paisagem, permitiria articular escolas, associações e artistas em torno da experimentação, da investigação e da partilha.
Uma cidade que educa ao criar e cria ao educar
O novo ciclo autárquico é uma oportunidade para consolidar o que Guimarães já tem de mais valioso: um tecido educativo e cultural vivo, criativo e participativo. O caminho está traçado, falta apenas transformá-lo numa política integrada, sustentada e contínua, porque o verdadeiro progresso de uma cidade/concelho, mede-se não apenas pelo que constrói, mas pelo que inspira. Educar é o maior ato cultural, e criar é o maior ato educativo e temos tudo para o provar, com inteligência, sensibilidade e visão de futuro.
❖ João Ribeiro é investigador do Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC) da Universidade do Minho, autor do livro “Banda Musical das Caldas das Taipas – 1834-2024” e do “Plano Municipal de Educação Musical de Guimarães”.