O Inverno entre Páginas
O vento sussurrava lá fora. Através da janela podia observar o arrastar das folhas secas, numa completa dança improvisada. Apesar do tempo gélido, eu sentia-me aconchegada junto à lareira. O calor das chamas envolvia o meu corpo, afastando a sensação de inverno que parecia ser eterno. Nas minhas mãos, uma chávena de chá quente, libertava um vapor delicado, que preenchia o ambiente com um aroma a maçã e canela. Cada gole, acariciava a minha garganta e trazia um conforto para a minha alma.
Sentia-me num ambiente ideal para terminar a minha leitura.
À medida que as páginas viravam, o mundo ao meu redor parecia desaparecer. Uma história romântica e cativante. Um casal muito apaixonado que apesar de todas as controvérsias conseguiram manter-se juntos.
Ele, com o olhar suave e cheio de admiração, tocava carinhosamente na barriga dela, como se fosse uma promessa do futuro. Ela, com o sorriso sereno e a expressão iluminada de quem sabe que o melhor da vida ainda está por vir, respondia com um toque delicado na mão dele. Naquela cafetaria acolhedora, entre o aroma do café fresco e o calor das conversas distantes, eles pareciam ser os únicos que existiam ali.
Enquanto o pedido feito por eles não chegava, ela aproveitou para ir à casa de banho. Ele ficou ali, a olhar com uma expressão carinhosa, para aquela que era a mulher da sua vida. No momento em que começa a descer as escadas, algo inesperado aconteceu. Um deslize repentino, fez com que ela perdesse o completo equilíbrio.
Num instante, o seu sorriso contagiante desfez-se, e o som do bater da sua cabeça contra os degraus fez o coração dela se apertar, cortando o ar com a gravidade do impacto. Ela caiu, sem tempo para se apoiar, nem forma de recuperar. Ele, quando se apercebeu levantou-se rapidamente, mas já era tarde demais.
Ao chegar ao pé dela, ele viu o seu rosto pálido e inconsciente. O mundo para eles parou ali, naqueles degraus frios e duros, e a vida deles, que parecia tão promissora, tão cheia de amor e esperança, desmoronou-se com um golpe inesperado.
E então... Terminou.
Com as mãos a tremer, fechei o livro e regressei ao presente. O vento continuava lá fora. A lareira ainda brilhava, e o chá na minha chávena permanecia morno. Aquele final tinha sido devastador, mas era apenas uma história, uma ficção.