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O Alvo

Torcato Ribeiro
Opinião \ quinta-feira, novembro 26, 2020
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Agora, vamos fazer o Congresso cumprindo todas as regras de saúde e ultrapassar mais uma campanha difamatória.

O circo mediático montado contra o PCP continua, e parece que veio para ficar. Nunca houve, desde Abril de 74, tanto afunilamento informativo como o que hoje vivemos. Fizeram-se ao longo deste ano várias iniciativas culturais e políticas, mas apenas foram contestadas aquelas que se identificam com Abril e a liberdade. Tudo começou com as comemorações do 25 de Abril que alguns pretendiam que não se fizessem. Depois foi o 1º de Maio e logo de imediato começou o folhetim da Festa do Avante!. Meses a fio a ouvir tudo e todos, excepcção feita aos comunistas que curiosamente são quem a organiza. Este ataque selectivo durou até à abertura da festa, que, pelo que se viu, esvaziou as vozes críticas contrárias à sua realização. O silêncio que se seguiu foi bem demonstrativo de que as razões de saúde apontadas para que se não realizasse não tinham fundamento e que foram cumpridas na íntegra todas as condições de segurança necessárias para o seu bom funcionamento.

Ao lado de toda esta gritaria, a vida continuou e as coisas aconteceram e continuam a acontecer com a naturalidade que as actuais e excepcionais circunstâncias o permitem: houve espectáculos culturais, manifestações religiosas e actividades partidárias, incluindo uma Convenção e um Congresso no mês de Setembro. Tudo feito na paz do Senhor mesmo que nem sempre cumprindo devidamente as exigências da autoridade de saúde. Nestes casos as luzes da ribalta estavam apagadas e os acusadores públicos da moral e do costume, travestidos de comentadores isentos, estavam, para ser simpático, distraídos.

Mas a bênção da distração não é privilégio generalizado e a letargia selectiva despertou para outra grande cruzada nacional: o congresso do PCP que se vai realizar nos próximos dias 27, 28 e 29, em Loures! A facilidade que têm em entrar pelas nossas casas permite-lhes criar agendas políticas que lhes servem os interesses partidários e pessoais. Desta vez a mensagem surge com um reforço significativo das palavras «bom senso, preocupação e humanidade». Se não conhecesse-mos os artistas, ficaríamos de tal maneira sensibilizados com as suas preocupações que facilmente nos viriam as lágrimas aos olhos de tanta emoção. Não é o caso, até porque as mudanças de carácter não são assim tão rápidas e as preocupações que nos avisam ter sobre a nossa saúde não são genuínas. Como não são genuínas as preocupações com os tais pretensos erros políticos que estamos a cometer. São doses exageradas de generosidade de quem no dia-a-dia político está do outro lado da barricada, e que, alguns, não descansarão enquanto não concretizarem o que no longínquo Novembro de 75 não tiveram força para fazer.

Sim, continuamos aqui, de pé, com a força e a responsabilidade de cem anos de vida que vamos completar em 6 de Março do próximo ano. Agora, vamos fazer o Congresso cumprindo todas as regras de saúde e ultrapassar mais uma campanha difamatória. Porque em política não vale tudo, mas quem pensa o contrário, contribui voluntariamente para a instalação de um clima demasiado perigoso com imensos riscos para a liberdade e a democracia.

Torcato Ribeiro, Novembro de 2020