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Nicolinas: quando a cultura deve chegar a todos os alunos

João Ribeiro
Opinião \ quinta-feira, dezembro 04, 2025
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Se a Câmara define a política cultural do concelho, não deveria garantir que a cultura nicolina chegasse a todas as escolas?

As Nicolinas são uma tradição única. Há tradições que se explicam, mas estas vivem-se. São dos estudantes, organizadas pelos estudantes e essa autenticidade é o seu maior património. A Câmara Municipal tem apenas o papel cultural e estratégico, nunca interventivo na essência da festa. Mas há uma pergunta que deve ser feita: todos os alunos do concelho têm igual acesso à cultura nicolina?

O Pinheiro deste sábado, realizado ao fim de semana, mostrou o que Guimarães é capaz de viver quando a tradição encontra disponibilidade. Milhares nas ruas, famílias inteiras, estudantes de todas as freguesias, todos embalados pelo toque grave das caixas e pelo enorme pinheiro puxado pelos jovens. Foi emoção coletiva no seu estado mais puro.

Mas esta força contrasta com a realidade de muitas escolas periféricas. Falo por experiência própria. Enquanto aluno das Taipas, as Nicolinas passaram-me quase ao lado. Não era falta de interesse, era sim falta de proximidade cultural. Mais tarde, na escola Francisco de Holanda, descobri finalmente o sentimento nicolino: pertença, energia, história vivida, mas a diferença estava simplesmente nas oportunidades culturais disponíveis, não nos alunos.

E é aqui que entra a política cultural do concelho. As Nicolinas não são apenas um cortejo: são uma tradição que remonta ao ano de 1664, reconhecida como Património Cultural Imaterial, com momentos que vão das Moínhas às Ceias, das Novenas às Matinas, das Danças ao Baile Nicolino. Mas a maioria dos alunos fora do centro só contacta verdadeiramente com um: o Pinheiro.

A pergunta, por isso, é legítima: se a Câmara define a política cultural do concelho, não deveria garantir que a cultura nicolina chegasse a todas as escolas? A OFICINA, enquanto empresa municipal de cultura, é um parceiro essencial na execução dessas estratégias, mas só pode agir dentro das orientações definidas pelo município.

Até hoje, não existe um plano cultural estruturado, contínuo e descentralizado sobre as Nicolinas. Falta levar a tradição às escolas da periferia, não a festa, mas a cultura.

As soluções são simples, respeitando sempre a autonomia estudantil:

– Sessões culturais sobre a história das Nicolinas;

– Exposições itinerantes pelas escolas;

– Encontros com antigos mordomos, caixeiros e historiadores;

– Materiais pedagógicos adequados a cada ciclo;

– Oficinas culturais opcionais sobre toque, ritmo ou construção de instrumentos.

Nada disto interfere com a tradição, pois tudo isto reforça o acesso cultural. O Pinheiro deste sábado provou que Guimarães inteiro quer viver as Nicolinas.
Agora é preciso garantir que Guimarães inteiro tem acesso à cultura nicolina, independentemente do lugar onde se estuda. As Nicolinas continuarão sempre a ser dos estudantes, mas esta cultura deve ser de todos os estudantes, do concelho de Guimarães