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Guimarães, Património Natural

Vítor Oliveira
Opinião \ quinta-feira, fevereiro 25, 2021
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A candidatura da Penha a Paisagem Protegida sairá certamente reforçada com a Rota da Biodiversidade, um percurso pedestre que a Câmara de Guimarães está a construir para os vimaranenses.

Há mais vida, além da pandemia. A majestosa oliveira que está no interior do Museu de Alberto Sampaio acaba de ser classificada como “Árvore de Interesse Público”. Está no coração do claustro, deslumbra-se a partir das galerias que comunicam com o jardim, mede 20 metros e tem mais de 100 anos. Sendo uma espécie de crescimento lento, em 1928 havia já uma referência com ela já adulta e, em 1915, aparece realçada na obra “Húmus”, um trabalho literário de Raul Brandão.

Trata-se de uma árvore secular, cujo reconhecimento acontece agora por parte do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Uma distinção que se junta a sete outras já alcançadas por espécies existentes em Guimarães: os dois plátanos nos jardins do Paço dos Duques de Bragança, o elegante Pinheiro Manso, que está em Silvares, antes do Espaço Guimarães, o eucalipto da Penha, perto do restaurante Dan José, e os três cedros que se encontram no parque de estacionamento do cemitério da Atouguia.

Além destas oito distinções de árvores isoladas, Guimarães tem igualmente cinco conjuntos arbóreos classificados. O arvoredo da Costa, onde está atualmente a Pousada de Santa Marinha, foi a primeira classificação obtida. Corria o ano de 1940. Seguiram-se os dois conjuntos distintos de camélias, ambos no Palácio de Vila Flor, o arvoredo na Casa da Penha e o arvoredo na Casa da Ribeira, na vila de Ponte. Um incêndio em S. Cipriano, nos anos 90, consumiu um sobreiro, uma árvore multisecular que se destacava em Tabuadelo.

São vicissitudes que não deslustram a riqueza de património histórico, cultural e paisagístico de Guimarães. Dentro da vasta área arborizada, o património arbóreo é extenso e nele destacam-se alguns exemplares que marcam presença no território de uma forma singular. Um deles é uma camélia com cerca de 300 anos que está na Casa da Covilhã, em Fermentões, onde viveu o arquiteto Fernando Távora, um dos nomes da regeneração do nosso Centro Histórico. Apesar de se encontrar danificada numa parte da copa, estima-se que a espécie seja de tipologia única na Europa. Em breve, poderá ser igualmente classificada pelo ICNF.

Outra relíquia natural de Guimarães são as camélias da Quinta do Costeado, na Cruz de Pedra, no exato sítio onde vai nascer a “Escola-Hotel” – que em breve formará futuros alunos em hotelaria. Muitos destes exemplares e conjuntos arbóreos são multisseculares ou mesmo milenares. Alguns estão presentes em espaços públicos. Outros inacessíveis e protegidos, mas a sua silhueta não escapa a um olhar mais clínico pelo lugar que ocupam na nossa paisagem.

O objetivo é sempre contribuir para a proteção e sobrevivência de exemplares arbóreos, de porte magnífico, singularidade e história e, até mesmo, raridade de interesse público. São espécies monumentais, que se destacam nos lugares e sítios onde se encontram e contribuem para assinalar marcos históricos. E Guimarães está a defender, preservar e valorizar o seu património natural, atribuindo-lhes um estatuto especial que, ao mesmo tempo, lhes confere uma proteção legal, bem como o reconhecimento do seu valor pelos vimaranenses, que demonstram uma sensibilidade única em matéria de ambiente e conservação da natureza, com forte adesão para iniciativas e projetos nestas áreas.

A candidatura da Penha a Paisagem Protegida sairá certamente reforçada com a Rota da Biodiversidade, um percurso pedestre que a Câmara de Guimarães está a construir para os vimaranenses, com início perto da Academia de Ginástica. Um imenso corredor ecológico está a ser formado desde o Parque da Cidade à Montanha da Penha, onde se destaca a fauna e flora nativas, a riqueza de aves típicas de bosques e as diferentes manchas florestais.

Este percurso idealizado por Domingos Bragança será continuado para a Cidade Desportiva até ao Parque de Ardão, em Silvares, seguindo pelas margens do rio Ave, onde um parque botânico promete embelezar o percurso. Guimarães assume, deste modo, um papel de relevo na afirmação da proteção e preservação da natureza, agregando ao seu património histórico e cultural um património natural de excelência. Esta é a nossa “primavera”. Este é o trilho da sustentabilidade ambiental. Que nem a pandemia nos desvia do caminho a percorrer.