Guimarães: música só para alguns?
Estamos em agosto, as escolas estão fechadas, mas os palcos estão abertos. Há concertos, festivais, bandas filarmónicas a animar festas nas freguesias e parece que a música está por todo o lado, mas será que está mesmo?
A verdade é esta: quando o verão acabar, milhares de crianças no concelho de Guimarães, vão voltar à escola sem qualquer acesso real ao ensino da música. E não é por falta de talento. É por falta de estratégia.
Enquanto em algumas freguesias ou principalmente as vilas, possuem academias ou escolas de música e associações culturais ativas, outras continuam no deserto cultural. As famílias que querem dar formação musical aos filhos enfrentam deslocações longas, custos elevados e uma total ausência de informação clara. E, para agravar, Guimarães é dos poucos concelhos do país onde a música não faz parte da oferta das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) no 1.º ciclo. Nem como opção.
A única exceção e com acesso limitado, o curso de iniciação musical do Conservatório de Guimarães, que funciona com vagas e critérios restritivos. Uma oportunidade válida, mas claramente insuficiente para responder às necessidades de um concelho inteiro.
O concelho de Guimarães continua a apresentar-se como uma cidade de cultura. Mas que cultura é esta, se depende do código postal? Que futuro é este, se o acesso à música é um privilégio de alguns e não um direito de todos?
Com as eleições à porta, o tema é urgente. Os candidatos vão continuar a prometer grandes eventos e infraestruturas culturais de luxo ou vão finalmente falar de um plano que leve a música às escolas, às freguesias, às mãos de todas as crianças?
Precisamos de um Plano Municipal de Educação Musical, sério e ambicioso. Que articule escolas, bandas filarmónicas, conservatórios, professores e comunidade. Que promova equidade, continuidade e qualidade. Que rompa com a lógica do improviso e da “boa vontade”.
Já chega de silêncio político sobre o tema. Já chega de tratar a educação musical como um luxo extracurricular. A música é formação, é expressão, é cidadania. E Guimarães com a sua história, os seus talentos e a sua responsabilidade cultural, não pode continuar a falhar neste compromisso.
Este verão, enquanto se dança nas festas e se aplaude nas romarias, é tempo de pensar: que música vai tocar a política em outubro?