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Guimarães: música só para alguns?

João Ribeiro
Opinião \ quinta-feira, agosto 07, 2025
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E, para agravar, Guimarães é dos poucos concelhos do país onde a música não faz parte da oferta das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) no 1.º ciclo. Nem como opção.

Estamos em agosto, as escolas estão fechadas, mas os palcos estão abertos. Há concertos, festivais, bandas filarmónicas a animar festas nas freguesias e parece que a música está por todo o lado, mas será que está mesmo?

A verdade é esta: quando o verão acabar, milhares de crianças no concelho de Guimarães, vão voltar à escola sem qualquer acesso real ao ensino da música. E não é por falta de talento. É por falta de estratégia.

Enquanto em algumas freguesias ou principalmente as vilas, possuem academias ou escolas de música e associações culturais ativas, outras continuam no deserto cultural. As famílias que querem dar formação musical aos filhos enfrentam deslocações longas, custos elevados e uma total ausência de informação clara. E, para agravar, Guimarães é dos poucos concelhos do país onde a música não faz parte da oferta das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) no 1.º ciclo. Nem como opção.

A única exceção e com acesso limitado, o curso de iniciação musical do Conservatório de Guimarães, que funciona com vagas e critérios restritivos. Uma oportunidade válida, mas claramente insuficiente para responder às necessidades de um concelho inteiro.

O concelho de Guimarães continua a apresentar-se como uma cidade de cultura. Mas que cultura é esta, se depende do código postal? Que futuro é este, se o acesso à música é um privilégio de alguns e não um direito de todos?

Com as eleições à porta, o tema é urgente. Os candidatos vão continuar a prometer grandes eventos e infraestruturas culturais de luxo ou vão finalmente falar de um plano que leve a música às escolas, às freguesias, às mãos de todas as crianças?

Precisamos de um Plano Municipal de Educação Musical, sério e ambicioso. Que articule escolas, bandas filarmónicas, conservatórios, professores e comunidade. Que promova equidade, continuidade e qualidade. Que rompa com a lógica do improviso e da “boa vontade”.

Já chega de silêncio político sobre o tema. Já chega de tratar a educação musical como um luxo extracurricular. A música é formação, é expressão, é cidadania. E Guimarães com a sua história, os seus talentos e a sua responsabilidade cultural, não pode continuar a falhar neste compromisso.

Este verão, enquanto se dança nas festas e se aplaude nas romarias, é tempo de pensar: que música vai tocar a política em outubro?